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5 de maio de 2015

Cine Plaza


Havia escrito um conto intitulado "Plaza", sobre o Cine Plaza, o último cinema de rua de Curitiba, para algum concurso. Ficava na Praça Osório.
Uma página que gosto muito chamada "Curitiba Antiga", que traz fotografias e histórias de outrora de minha cidade, postou essa foto do interior do cinema em 1997.
Resolvi enviar o conto para a página, e eles o publicaram na postagem. Confiram:
http://curitibaantigamente.com/cine-plaza-na-praca-osorio-ano-1997/
Segue o conto na íntegra.

PLAZA

Era o último cinema de rua da cidade. Veio na sua inauguração, em 1964. O filme era “Moscou contra 007”. Com pai e mãe. Ainda estavam juntos, na época.
Nenhuma fila para a bilheteria. Chegou ao balcão e apoiou-se, suspirando. Sorriu nervoso para a atendente, enxugou o suor da testa. “Uma inteira pro filme das cinco”.
Foi o único cinema da cidade a passar “O Império dos Sentidos”, nos anos 70, o jornal dizendo que o filme era escandaloso. Não poderia haver melhor propaganda. Foi assisti-lo com uma namorada. Três anos depois, casou com a moça.
Andou, ou melhor, cambaleou até a porta de vidro, entregou o ingresso à senhora que também vendia pipoca e doces. “Tenha um bom filme”.
Era 1987, ele engordava mais a cada ano, a esposa também indo por esse caminho. Nunca estivera em fila tão grande, saía do cinema e atravessava a rua para dentro da praça que tinha na frente. A mulher irritada, reclamando a cada pouco. Mas o guri sorria de orelha a orelha. O filme era “Robocop”.
Respirava com dificuldade. Empurrou a pesada porta, deu três passos e teve que se apoiar na parede acarpetada. Engoliu em seco, e avançou tateando. Finalmente o escuro.
Em 92, encontrou o filho no hospital, a ex-mulher pálida no leito, com os olhos afundados. Saíram pai e filho juntos, conversando sem parar. Foram ver “O Exterminador do Futuro 2”. Despediram-se na entrada do cinema. Lembra de ter ficado de pé ali, sentindo uma tristeza absurda.
Dez anos passados. Cada passo era um desafio monumental. Não sentia os pés ou as mãos. Mas não precisava mais disfarçar seu sofrimento. O projetor já tinha começado a rodar, passavam os comerciais e trailers, as atenções estavam na tela, o som retumbante encobria seus gemidos.
Subiu três dos baixos degraus. Não conseguiu mais que isso. Virou-se e avançou uma, duas, três poltronas, e sentou-se. Ou melhor, largou todo o peso do corpo. Fechou os olhos, sorrindo, na sala escura, antes do filme rodar. Abriu os olhos com o começo do filme.
Estaria morto antes do título.