Havia escrito um conto intitulado "Plaza", sobre o Cine Plaza, o último cinema de rua de Curitiba, para algum concurso. Ficava na Praça Osório.
Uma página que gosto muito chamada "Curitiba Antiga", que traz fotografias e histórias de outrora de minha cidade, postou essa foto do interior do cinema em 1997.
Resolvi enviar o conto para a página, e eles o publicaram na postagem. Confiram:
http://curitibaantigamente.com/cine-plaza-na-praca-osorio-ano-1997/
Segue o conto na íntegra.
Segue o conto na íntegra.
PLAZA
Era o último cinema de rua da cidade. Veio na sua
inauguração, em 1964. O filme era “Moscou contra 007”. Com pai e mãe. Ainda
estavam juntos, na época.
Nenhuma fila para a bilheteria. Chegou ao balcão e
apoiou-se, suspirando. Sorriu nervoso para a atendente, enxugou o suor da
testa. “Uma inteira pro filme das cinco”.
Foi o único cinema da cidade a passar “O Império
dos Sentidos”, nos anos 70, o jornal dizendo que o filme era escandaloso. Não
poderia haver melhor propaganda. Foi assisti-lo com uma namorada. Três anos
depois, casou com a moça.
Andou, ou melhor, cambaleou até a porta de vidro,
entregou o ingresso à senhora que também vendia pipoca e doces. “Tenha um bom
filme”.
Era 1987, ele engordava mais a cada ano, a esposa
também indo por esse caminho. Nunca estivera em fila tão grande, saía do cinema
e atravessava a rua para dentro da praça que tinha na frente. A mulher
irritada, reclamando a cada pouco. Mas o guri sorria de orelha a orelha. O
filme era “Robocop”.
Respirava com dificuldade. Empurrou a pesada porta,
deu três passos e teve que se apoiar na parede acarpetada. Engoliu em seco, e
avançou tateando. Finalmente o escuro.
Em 92, encontrou o filho no hospital, a ex-mulher
pálida no leito, com os olhos afundados. Saíram pai e filho juntos, conversando
sem parar. Foram ver “O Exterminador do Futuro 2”. Despediram-se na entrada do
cinema. Lembra de ter ficado de pé ali, sentindo uma tristeza absurda.
Dez anos passados. Cada passo era um desafio
monumental. Não sentia os pés ou as mãos. Mas não precisava mais disfarçar seu
sofrimento. O projetor já tinha começado a rodar, passavam os comerciais e trailers,
as atenções estavam na tela, o som retumbante encobria seus gemidos.
Subiu três dos baixos degraus. Não conseguiu mais
que isso. Virou-se e avançou uma, duas, três poltronas, e sentou-se. Ou melhor,
largou todo o peso do corpo. Fechou os olhos, sorrindo, na sala escura, antes
do filme rodar. Abriu os olhos com o começo do filme.
Estaria morto antes do título.
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