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24 de outubro de 2016

ALASTOR de Percy Shelley

"Alastor" - Robert Anning Bell - Museu Nacional de Arte da Catalunha

ALASTOR: OU, O ESPÍRITO DA SOLIDÃO
de Percy Bysshe Shelley (1792-1822)
Traduzido por Eduardo Capistrano

Terra, Oceano, Ar, amada irmandade!
Se nossa grande Mãe imbuiu minha alma
Com algo de piedade natural para sentir
Seu amor, e para recompensar a dádiva com o meu;
Se a manhã orvalhosa, e o meio-dia odoroso, e o entardecer,
Com o pôr-do-sol e seus deslumbrantes ministros,
E a quietude formigante da solene meia-noite;
Se os suspiros ocos do outono na madeira seca,
E o inverno vestindo com neve pura e coroas
De gelo estrelado a grama cinza e os ramos nus;
Se os ofegos voluptuosos da primavera quando ela expira
Seus primeiros beijos doces, foram caros para mim;
Se nenhum pássaro brilhante, inseto ou besta gentil
Eu conscientemente tenha ferido, mas ainda amado
E querido estes meus parentes; então perdoe
Esta gabação, amados irmãos, e retirem
Nenhuma porção de seu habitual favor agora!

Mãe deste mundo insondável!
Favoreça minha canção solene, pois eu tenho amado
A ti sempre, e a ti apenas; Eu tenho observado
Tua sombra, e a escuridão de teus passos,
E meu coração sempre fita a profundeza
Dos teus mistérios profundos. Eu fiz meu leito
Em carneiras e em caixões, onde a morte negra
Mantém registro dos troféus ganhos de ti,
Esperando deter estes questionamentos obstinados
De ti e dos teus, em forçando algum fantasma solitário,
Teu mensageiro, a produzir o conto
Do que nós somos. Nas horas sozinhas e silenciosas,
Quando a noite faz um som estranho de sua própria quietude,
Como um alquimista inspirado e desesperado
Apostando sua própria vida em alguma esperança escura,
Eu misturei conversa sofrível e olhares inquisidores
Com meu mais inocente amor, até que lágrimas estranhas,
Unindo-se com aqueles beijos sem fôlego, fizeram
Mágica tal qual compele a noite encantada
A desistir de tua carga:... e, apesar de nunca ainda
Tu ter desvelado teu santuário mais íntimo,
O bastante de sonho incomunicável,
E de fantasmagorias do crepúsculo, e de profundos pensamentos de meio-dia,
Tem brilhado dentro de mim, para serenamente agora
E imóvel, como uma lira há muito tempo esquecida
Suspensa no domo solitário
De algum templo misterioso e deserto,
Eu aguardar teu fôlego, Grande Pai, que meu esforço
Possa modular-se com murmúrios do ar,
E movimentos das florestas e do mar,
E a voz dos seres vivos, e tramados hinos
De noite e dia, e o coração profundo do homem.

Houve um Poeta cuja tumba prematura
Nenhuma mão humana com reverência pia erigiu,
Mas os torvelinhos encantados dos ventos outonais
Construíram sobre seus ossos mofando uma pirâmide
De folhas mofando na aridez selvagem: —
Um jovem amável, — nenhuma donzela lamentosa adornou
Com flores chorosas, ou guirlanda votiva de cipreste,
O solitário leito de seu sono perpétuo: —
Gentil, e bravo, e generoso, — nenhum bardo desolado
Exalava sobre seu destino negro um suspiro melodioso:
Ele viveu, ele morreu, ele cantou em solidão.
Estranhos choraram para ouvir suas notas apaixonadas,
E virgens, como desconhecidas passadas por ele, haviam depositado
E se desgastado pelo amor terno de seus olhos selvagens.
O fogo daquelas orbes suaves havia cessado de queimar,
E o Silêncio, enamorado demais daquela voz,
Tranca a música muda dela em sua cela austera.

Por visão solene, e brilhante sonho prateado
Sua infância foi nutrida. Cada vista
E som da terra vasta e ar ambiente,
Enviaram a seu coração seus impulsos mais seletos.
As fontes da filosofia divina
Não fugiam de seus lábios sedentos, e tudo de grande,
Ou bom, ou amável, que o passado sagrado
Em verdade ou fábula consagra, ele sentiu
E conheceu. Quando a primeira juventude havia passado, ele deixou
Sua fria lareira e lar alienado
Para buscar verdades estranhas e terras não descobertas.
Mais de uma vastidão ampla e selva emaranhada
Havia atraído seus passos destemidos; e ele havia comprado
Com seus doces voz e olhos, de homens selvagens,
Seu descanso e comida. Os passos mais secretos da Natureza
Ele como sombra dela perseguiu, onde quer que
O vulcão vermelho se fecha sobre
Seus campos de neve e pináculos de gelo
Com fumaça flamejante, ou onde lagos de betume
Em vazias ilhotas negras e pontudas continuamente batem
Com vagaroso ímpeto, ou onde as cavernas secretas,
Acidentadas e escuras, serpenteando entre as nascentes
De fogo e veneno, inacessíveis
À avareza e orgulho, seus domos estrelados
De diamante e de ouro expandem sobre
Câmaras inúmeras e imensuráveis,
Frequentes com coluna de cristal, e capelas claras
De pérola, e tronos radiantes de crisólita.
Nem havia aquela cena de majestade mais ampla
Que gemas ou ouro, o variante teto dos céus
E a terra verde perdido em seu coração suas pretensões
Ao amor e fascínio; ele deteria-se longamente
Em vales solitários, fazendo da mata seu lar,
Até que as pombas e esquilos fossem partilhar
De sua mão inócua sua comida sem sangue,
Atraídos pela gentil maneira de sua aparência,
E o antílope selvagem, que pula sempre que
A folha seca estala na freada, suspende
Seus passos tímidos, para admirar uma forma
Mais graciosa que sua própria.

                                          Sua passada vagante,
Obediente a altos pensamentos, havia visitado
As ruínas medonhas dos dias de outrora:
Atenas, e Tiro, e Balbec, e o deserto
Onde esteve Jerusalém, as torres caídas
De Babilônia, as pirâmides eternas,
Mênfis e Tebes, e qualquer coisa de estranho,
Esculturado em obelisco de alabastro,
Ou tumba de jaspe, ou esfinge mutilada,
Que a escura Etiópia em suas colinas desertas
Esconde. Dentre os templos arruinados lá,
Colunas estupendas, e imagens selvagens
De mais do que o homem, onde demônios de mármore observam
O mistério brônzeo do Zodíaco, e homens mortos
Pendem seus pensamentos mudos nas paredes mudas ao redor,
Ele detinha-se, debruçando sobre memoriais
Da juventude do mundo: através do longo dia ardente
Contemplava aquelas formas sem fala; nem, quando a lua
Enchia as câmaras misteriosas com sombras flutuantes
Suspendia ele aquela tarefa, mas continuava a contemplar
E contemplar, até que o sentido em sua mente vacante
Lampejava como inspiração forte, e ele via
Os segredos eletrizantes do nascimento do tempo.

Enquanto isso uma donzela Árabe trazia sua comida,
Sua porção diária, da tenda do pai dela,
E estendia esteira dela para seu leito, e furtava-se
De deveres e repouso para atender aos passos dele,
Enamorada, mas não ousando por temor profundo
Falar seu amor: — e observava seu sono noturno,
Ela mesma insone, para admirar os lábios dele
Abertos na dormência, quando a respiração regular
De sonhos inocentes surgiu; então, quando a manhã vermelha
Tornou mais pálida a pálida lua, a seu lar frio
Cambaleava, e lívida, e ofegante, ela retornava.

O Poeta, vagueando adiante, através da Arábia,
E Pérsia, e o árido deserto Carmaniano,
E por cima das montanhas aéreas que derramam
Indo e Oxo de suas cavernas geladas,
Em júbilo e exultação deteve seu curso;
Até que no vale da Caxemira, bem para dentro
De sua mais solitária fenda, onde plantas odorosas enovelam
Sob as rochas ocas um caramanchão natural,
Ao lado de um regato cintilante ele esticou
Seus membros lânguidos. Uma visão em seu sono
Lá veio, um sonho de esperanças que nunca ainda
Haviam corado sua face. Ele sonhou que uma dama velada
Sentou perto dele, falando em solenes tons baixos.
A voz dela era como a voz de sua própria alma
Ouvida na quietude do pensamento; sua música longa,
Como trançados rumores de riachos e brisas, seguraram
Seu senso mais íntimo suspenso em sua teia
De textura multicores e matizes mutáveis.
Conhecimento e verdade e virtude eram o tema dela,
E esperanças altivas de liberdade divina,
Pensamentos dos mais queridos para ele, e poesia,
Ela mesma uma poeta. Logo o temperamento solene
De sua mente pura acendeu através do corpo dela
Um fogo permeante; um número selvagem então
Ela iniciou, com a voz sufocada em soluços trêmulos
Subjugados pelo próprio pathosdela; suas mãos delicadas
Estavam por si mesmas, varrendo de alguma harpa estranha
Estranha sinfonia, e nas veias bifurcantes delas
O sangue eloquente contava um conto inefável.
O bater do coração dela era ouvido para preencher
As pausas de sua música, e sua respiração
Tumultuosamente harmonizava com aqueles ataques
De canção intermitente. Súbito ela levantou,
Como se seu coração impacientemente aceitasse
Seu fardo rompente: ao som ele virou-se,
E viu pela luz quente da própria vida deles
Seus braços radiantes debaixo do véu sinuoso
De vento tecido, os braços dela esticados agora expostos,
Suas mechas escuras flutuando na respiração da noite,
Seus radiosos olhos curvos, seus lábios entreabertos
Esticados, e pálidos, e palpitando ansiosamente.
O coração forte dele afundou e adoeceu com excesso
De amor. Ele ergueu seus membros estremecidos e conteve
Sua resfolegante respiração, e abriu seus braços para encontrar
O peito ofegante dela: ... ela recuou por um momento,
Então, cedendo ao júbilo irresistível,
Com gesto frenético e um grito curto e sem fôlego
Embalou o corpo dele nos seus braços evanescentes.
Agora o negrume velava os olhos tontos dele, e a noite
Envolvia e engolia a visão; o sono,
Como uma escura inundação suspensa em seu curso,
Revertia seu impulso no cérebro vacante dele.

Desperto pelo choque ele pulou de seu transe —
A luz fria e gelada da manhã, a lua azul
Baixa no oeste, as colinas claras e vistosas,
O vale distinto e as matas vacantes,
Espalhavam-se ao redor de onde ele estava. Para onde haviam fugido
As matizes de paraíso que cobriam seu caramanchão
Da noite anterior? Os sons que acalentaram seu sono,
O mistério e a majestade da Terra,
O júbilo, a exultação? Seus olhos lívidos
Fitam a cena vazia tão vagamente
Como a lua do oceano se parece com a lua no céu.
O espírito do doce amor humano havia enviado
Uma visão para o sono daquele que rejeitara
Seus mais seletos presentes. Ele ansiosamente persegue
Além dos reinos do sonho aquele espectro fugaz;
Ele salta sobre as barreiras. Ai! Ai!
Foram os membros, e a respiração, e o ser enovelados
Tão traiçoeiramente? Perdida, perdida, para sempre perdida
No amplo deserto sem caminhos do sono turvo,
Aquela bela forma! O portão negro da morte
Conduz a teu misterioso paraíso,
Ó Sono? O arco brilhante de nuvens iridescentes
E montanhas pendentes vistas no lago calmo,
Levam apenas a uma profundeza aquosa e negra,
Enquanto a abóbada azul da morte, com execráveis vapores suspensos,
Onde cada sombra que a sepultura imunda exala
Oculta seu olho morto do dia detestado,
Conduz, Ó Sono, aos teus reinos deleitosos?
Esta dúvida com maré súbita fluiu para o coração dele;
A esperança não saciada que ela despertou, picou
Seu cérebro mesmo como o desespero.

                                                      Enquanto a luz do dia segurava
O céu, o Poeta manteve conferência muda
Com sua alma imóvel. À noite a paixão veio,
Como o diabo feroz de um sonho destemperado,
E o abalou de seu descanso, e o levou adiante
Para dentro da escuridão. — Como uma águia, colhida
Nas voltas da serpente verde, sente seu peito
Queimar com o veneno, e precipita-se
Através de noite e dia, tempestade, e calmaria, e nuvem,
Frenética com angústia estonteante, seu voo cego
Sobre os vastos ares inóspitos: assim movido
Pela sombra brilhante daquele sonho amável,
Sob o clarão frio da noite desolada,
Através de pântanos emaranhados e profundas fendas íngremes,
Sobressaltando com o passo descuidado a cobra à luz da lua,
Ele fugiu. A manhã vermelha alvorou sobre sua fuga,
Vertendo a zombaria de seus matizes vitais
Sobre a sua face de morte. Ele continuou a vagar
Até que a vasta Aornos vista da encosta de Petra
Pairasse sobre o horizonte baixo como uma nuvem;
Através de Bactro, e onde as tumbas desoladas
De reis Partas dispersavam para todo vento
Sua poeira dissipante, loucamente ele continuou a vagar,
Dia após dia um árduo desperdício de horas,
Portando dentro de sua vida a triste preocupação
Que sempre nutria-se de sua chama decadente.
E agora seus membros estavam magros; seu cabelo desgrenhado,
Seco pelo outono de estranho sofrimento
Cantava lamentos no vento; sua mão lânguida
Pendia como osso morto dentro de sua pele murcha;
Vida, e o lustro que a consumiu, ardeu
Como em uma fornalha queimando em segredo
Para seus olhos negros apenas. Os aldeões,
Que assistiam com caridade humana
Suas necessidades humanas, observaram com maravilhado fascínio
Seu visitante fugitivo. O montanhista,
Encontrando em algum precipício desorientante
Aquela forma espectral, concluiu que o Espírito do vento
Com olhos de relâmpago, e fôlego ansioso, e pés
Não perturbando a neve acumulada, havia pausado
Em sua carreira: a criança iria esconder
Seu semblante transtornado no robe da mãe
Em terror pela intensidade daqueles olhos maníacos,
Para lembrar da luz estranha deles em mais de um sonho
Tempos depois; mas donzelas joviais, ensinadas
Pela natureza, compreenderiam metade da desventura
Que o consumiu, chamariam-no de nomes falsos
Irmão e amigo, apertariam sua mão pálida
Na despedida, e assistiriam, turvo através das lágrimas, o caminho
Da partida dele da porta de seu pai.

Longamente sobre a solitária margem Corasmiana
Ele pausou, um deserto vasto e melancólico
De pântanos pútridos. Um impulso forte incitou
Seus passos à beira-mar. Um cisne estava lá,
Ao lado de um vagaroso córrego entre as taboas.
Ele levantou-se quando se aproximou, e, com asas fortes
Escalando o céu ascendente, dobrou seu curso brilhante
Alto sobre o oceano imensurável.
Os olhos dele perseguiram seu voo: — 'Tu tens um lar,
Belo pássaro; tu viajas para teu lar,
Onde tua doce companheira vai enrolar o pescoço emplumado dela
Com o teu, e bem-acolher teu retorno com olhos
Brilhantes no lustro de seu próprio júbilo carinhoso.
E o que sou eu para precisar ficar aqui,
Com voz muito mais doce que tuas notas moribundas,
Espírito mais vasto que o teu, figura mais alinhada
À beleza, desperdiçando estes poderes insuperáveis
No ar surdo, para a terra cega, e o céu
Que não ecoa meus pensamentos?' Um sorriso soturno
De esperança desesperada enrugou seus lábios trêmulos.
Pois o sono, ele sabia, mantinha muito incansavelmente
Sua carga preciosa, e a morte silenciosa expunha,
Infiel talvez como o sono, um chamariz sombrio,
Com sorriso duvidoso zombando de seus próprios encantos estranhos.

Sobressaltado pelos seus próprios pensamentos ele olhou ao redor.
Não havia demônio belo próximo dele, nem uma visão
Ou som de fascínio que não em sua própria mente profunda.
Uma pequena chalupa flutuando perto da costa
Capturou a peregrinação impaciente de seu olhar.
Ela havia sido há muito abandonada, pois seus lados
Abriam-se muito com mais de uma rachadura, e suas juntas frágeis
Balançavam com as ondulações da maré.
Um impulso incansável o impeliu a embarcar
E encontrar a Morte solitária no lúgubre páramo do oceano;
Pois bem ele sabia que a poderosa Sombra ama
As cavernas gosmentas das profundezas populosas.

O dia era belo e ensolarado; mar e céu
Bebiam sua radiância inspiradora, e o vento
Varria fortemente da costa, escurecendo as ondas.
Seguindo sua alma ansiosa, o peregrino
Saltou no barco, ele espalhou seu manto içado
No mastro nu, e tomou seu assento solitário,
E sentiu o barco acelerar sobre o mar tranquilo
Como uma nuvem rasgada antes do furacão.

Como alguém que em uma visão prateada flutua
Obediente ao varrer de ventos odorosos
Sobre nuvens resplandescentes, assim rapidamente
Ao longo das águas escuras e agitadas escapou
O barco esforçado. — Um redemoinho o arrebatou,
Com lufadas ferozes e força precipitante,
Através das cristas brancas do mar irritado.
As ondas subiram. Mais alto e mais alto ainda
Seus pescoços ferozes contorciam sob o flagelo da tempestade
Como serpentes lutando na garra de um abutre.
Calmo e regozijando na guerra temível
De onda ruindo sobre onda, e golpe sobre golpe
Descendo, e inundação negra em turbilhão movido
Em escuro curso obliterante, ele sentou:
Como se seus gênios fossem os ministros
Apontados para conduzi-lo para a luz
Daqueles olhos adorados, o Poeta sentou,
Segurando o timão firme. A noite veio,
Os raios do entardecer pairavam seus matizes iridescentes
Altos em meio aos domos mutáveis de camadas de vapor
Que cobriam seu caminho sobre a profundeza vasta;
Crepúsculo, ascendendo vagarosamente do leste,
Emaranhou em guirlandas mais vespertinas suas mechas trançadas
Sobre a fronte clara e os olhos radiantes do dia;
Noite se seguiu, vestida de estrelas. Por todo lado
Mais horrivelmente a multidão de correntes
Da vastidão montanhosa do oceano à guerra mútua
Acorreram em escuro tumulto trovejante, como que para zombar
O céu calmo e constelado. O pequeno barco
Ainda fugia diante da tormenta; ainda fugia, como a espuma
Caindo da catarata íngreme de um vento invernal;
Agora pausando na beira de uma onda fendida;
Agora deixando muito para trás a massa explosiva
Que caiu, convulsionando o oceano: seguramente fugiu —
Como se aquela forma humana frágil e gasta,
Tivesse sido um deus elemental.

                                            À meia-noite
A lua subiu; e lá! as colinas etéreas
Do Cáucaso, cujos picos gelados cintilavam
Entre as estrelas como a luz do sol, e ao redor
De cuja base cavernosa os turbilhões e as ondas
Explosivas e revoltosas irresistivelmente
Enfureciam-se e ressoavam para sempre. — Quem deve salvar? —
O barco continuou fugindo, — a torrente fervente pressionava, —
As escarpas fecharam ao redor com braços negros e afiados,
A montanha estilhaçada sobrepairou o mar,
E mais rápido ainda, além de toda a velocidade humana,
Suspenso no varrer da onda suave,
O pequeno barco foi conduzido. A caverna lá
Bocejava, e em meio a suas profundezas inclinadas e sinuosas
Engolfava o mar apressado. O barco continuou a fugir
Com velocidade sem relaxar. — 'Visão e Amor!'
O Poeta gritou alto, 'Eu tenho observado
O caminho de tua partida. Sono e morte
Deverão não nos dividir longamente.'

                                                   O barco perseguiu
As curvas da caverna. A luz do dia brilhou
Com demora sobre o fluxo soturno do rio;
Agora, onde a guerra mais feroz entre as ondas
Está calma, na corrente insondável
O barco moveu-se lentamente. Onde a montanha, partida,
Expunha aquelas profundezas negras para o céu azul,
Antes ainda que o volume enorme da inundação caísse
Mesmo para a base do Cáucaso, com som
Que abalou as rochas perpétuas, a massa
Preencheu com um turbilhão todo aquele abismo amplo:
Escada sobre escada as águas revoltosas subiram,
Circulando imensuravelmente rápido, e lavaram
Com espalhar alternante as raízes contorcidas
De árvores poderosas, que esticavam seus braços gigantes
Na escuridão sobre ela. No meio foi deixada,
Refletindo, ainda que distorcendo cada nuvem,
Uma poça de calmaria traiçoeira e tremenda.
Colhido pelo balanço da corrente ascendente,
Com ligeireza estonteante, ao redor, e ao redor, e ao redor,
Crista após crista o esforçado barco subiu,
Até estar na borda da curva mais extrema,
Onde, através de uma abertura do banco rochoso,
As águas transbordam, e um ponto liso
De silêncio vítreo em meio àquelas ondas em batalha
Resta, o barco pausou estremecendo. — Deve ele afundar
Abismo abaixo? Deve a ressaca intensa
Daquele golfo irresistível colhê-lo em seu colo?
Agora deve ele cair? — Uma corrente vagante de vento,
Soprada do oeste, havia capturado a vela expandida,
E, lá! com movimento gentil, entre os bancos
De encostas musgosas, e em uma corrente plácida,
Para baixo de um bosque enredado ele navega, e, ouça!
A torrente lúrida mistura seu rugido distante,
Com a brisa murmurando nas matas musicais.
Onde as fechadas árvores recuam, e deixam
Um pequeno espaço de faixa verde, a enseada
É fechada por bancos se encontrando, cujas flores amarelas
Para sempre olham em seus próprios olhos caídos,
Refletidos na calma cristalina. A onda
Do movimento do barco frustrou sua tarefa pensiva,
Que nada além do pássaro vagante, ou vento ousado,
Ou caniços cadentes, ou sua própria decadência
Havia alguma vez perturbado antes. O Poeta ansiava
Adornar com suas matizes brilhantes seu cabelo murcho,
Mas em seu coração sua solidão retornou,
E ele se conteve. Não havia o forte impulso oculto
Naquelas bochechas ruborizadas, olhos curvos, e silhueta sombria
Ainda realizado seu ministério: ele pairava
Sobre sua vida, como o relâmpago em uma nuvem
Radia, flutuando antes de esvanecer, antes que as inundações
Da noite se fechem sobre ela.

                                         O sol do meio-dia
Agora brilhava sobre a floresta, uma massa vasta
De sombra misturando-se, cuja magnificência marrom
Um vale estreito acolhe em seu seio. Lá, cavernas enormes,
Escavadas na base escura de suas rochas aéreas,
Zombando seus gemidos, respondiam e rugiam para sempre.
Os ramos encontrando-se e as folhas envolvidas
Tramavam crepúsculo sobre o caminho do Poeta, enquanto levado
Por amor, ou sonho, ou deus, ou a mais poderosa Morte,
Ele buscava no antro mais querido da Natureza algum banco,
O berço dela, e o sepulcro dele. Mais escuras
E escuras as sombras se acumulavam. O carvalho,
Expandindo seus braços imensos e nodosos,
Abraça a praia clara. As pirâmides
Dos altos cedros sobrepondo-se em arcos enquadram
Domos dos mais solenes dentro delas, e muito abaixo,
Como nuvens suspensas em um céu esmeralda,
O freixo e a acácia flutuando pendem
Trêmulos e pálidos. Como serpentes incansáveis, vestidas
Em arco-íris e em fogo, os parasitas,
Estrelados com dez mil botões de flor, fluem ao redor
Dos troncos cinzentos, e, como os olhos de crianças brincalhonas,
Com modos gentis, e os mais inocentes truques,
Cingem seus raios ao redor dos corações daqueles que amam,
Estes emaranham suas gavinhas com os galhos casados
Unindo sua íntima união; as folhas tramadas
Fazem uma rede da luz azul escura do dia,
E a claridade do meio-dia noturno, mutável
Como formas nas nuvens estranhas. Relvas musgosas suaves
Sob estas copas estendiam suas áreas,
Fragrantes com ervas perfumadas, e como olhos, floradas
Diminutas mas belas. Um vale dos mais escuros
Envia de suas matas de rosa-mosqueta, enovelada com jasmim,
Um odor dissolvedor da alma para convidar
Para algum mistério mais amável. Através da fenda,
Silêncio e Crepúsculo aqui, irmãs gêmeas, mantém
Sua vígilia do meio-dia, e navegam entre as sombras,
Como formas vaporosas à meia vista; além, um poço,
Escuro, cintilante, e da mais translúcida onda,
Refletia todos os galhos tramados acima,
E cada folha pendente, e cada mancha
De céu azul, dardejando entre os vãos deles;
Nada mais no espelho líquido lava
Seu retrato, além de alguma estrela inconstante
Em meio a uma grade folhada piscando clara,
Ou pássaro pintado, dormindo debaixo da lua,
Ou inseto maravilhoso flutuando sem se mover,
Inconsciente para o dia, antes ainda que suas asas
Tivessem espalhado suas glórias ao olhar do meio-dia.

Mais perto o Poeta veio. Seus olhos fitaram
Sua própria luz fraca através das linhas refletidas
De seu cabelo fino, distinta na profundeza escura
Daquela fonte plácida; como o coração humano,
Olhando em sonhos para a sepultura lúgubre,
Vê sua própria aparência traiçoeira lá. Ele escutou
O movimento das folhas, a grama que saltava
Assustada e relanceava e tremia até por sentir
Uma presença não costumeira, e o som
Daquele córrego doce que das nascentes secretas
Daquela fonte negra emergia. Um Espírito pareceu
Estar de pé a seu lado — vestido não em robes brilhantes
De prata sombria ou luz entesourante,
Emprestados do que quer que o mundo visível fornece
De graça, ou majestade, ou mistério; —
Mas, matas ondulantes, e poço silencioso,
E riacho saltador, e lugubridade da noite
Agora aprofundando as sombras escuras, para assumir voz,
Entrou em comunhão com ele, como se ambos
Fossem tudo o que existisse, — apenas... quando sua atenção
Foi levantada pela pensatividade intensa, ... dois olhos,
Dois olhos estrelados, penderam na treva do pensamento,
E pareceram com seus sorrisos serenos e azuis
Chamá-lo.

               Obediente à luz
Que brilhava dentro de sua alma, ele foi, perseguindo
As curvas do vale. — O riacho,
Ousado e selvagem, através de mais de uma ravina verde
Debaixo da floresta fluía. Às vezes ele caía
Entre o musgo com harmonia vazia
Escura e profunda. Agora nas pedras polidas
Ele dançava; como risadas de criança enquanto seguia:
Então, através da planície em tranquilos vagueios rastejou,
Refletindo cada erva e botão pendente
Que sobrepairava sua quietude. — 'Ó corrente!
Cuja fonte é inacessivelmente profunda,
Aonde tuas águas misteriosas tendem?
Tu espelha minha vida. Tua quietude escurecida,
Tuas ondas deslumbrantes, teus golfos altos e ocos,
Tua fonte inescrutável, e curso invisível
Têm cada uma seu modelo em mim; e o céu amplo.
E o oceano desmedido pode declarar tão logo
Que caverna lodosa ou que nuvem peregrina
Contém tuas águas, enquanto o universo
Conta onde estes pensamentos vivos residem, quando esticados
Sobre tuas flores meus membros exangues irão se perder
No vento que passa!'

                             Ao lado das margens gramadas
Do riacho pequeno ele seguiu; ele imprimiu
No musgo verde seu passo trêmulo, que capturou
Forte estremecimento de seus membros ardentes. Como alguém
Excitado por alguma loucura jubilante do leito
Da febre, ele se moveu, ainda, não como ele,
Esquecido sobre a sepultura, aonde, quando a chama
De sua exultação frágil for gasta,
Ele deve descer. Com passos rápidos ele seguiu
Para baixo da sombra das árvores, ao lado do fluxo
Do selvagem riacho tagarelante; e agora
As copas solenes da floresta estavam mudadas
Para o céu uniforme e iluminado da tarde.
Rochas cizentas espiavam do musgo esparso, e resistiam
Ao córrego lutador; agulhas altas de capim
Jogaram suas sombras finas para baixo da encosta grosseira,
E nada além de raízes retorcidas de pinhos anciões
Sem galhos e estourados, apertavam com raízes agarrantes
O solo relutante. Uma mudança gradual ocorria aqui,
Mas lúrida. Pois, enquanto os anos rápidos correm embora,
O cenho liso se enruga, e o cabelo fica fino
E branco, e onde olhos orvalhosos radiantes
Haviam brilhado, cintilam orbes pétreas: — então de seus passos
Flores brilhantes se afastavam, e a bela sombra
Dos bosques verdes, com todos os seus ventos odorosos
E movimentos musicais. Calmo, ele ainda perseguia
O riacho, que com um volume maior agora
Rolava através do vale labiríntico; e lá
Esfregou um caminho através de suas curvas descendentes
Com sua velocidade invernal. Em todo lado agora erguiam-se
Rochas, que, em formas inimagináveis,
Levantavam seus pináculos negros e estéreis
Na luz da noite, e seu precipício
Obscurecendo a ravina, desvelada acima,
No meio de pedras tombando, golfos negros e cavernas bocejantes,
Cujas curvas deram dez mil línguas variadas
Para a corrente ruidosa. Lá! onde o passo expande
Suas mandíbulas pétreas, a montanha abrupta quebra,
E parece, com suas escarpas acumuladas,
Sobrepairar o mundo: para longe expande
Sob estrelas fracas e lua descendente
Mares ilhados, montanhas azuis, rios poderosos,
Trechos turvos e vastos, vestidos no escuro lustroso
Da noite de cor plúmbea, e colinas fogosas
Misturando suas chamas com o crepúsculo, na beira
Do horizonte remoto. A cena próxima,
Em simplicidade nua e severa,
Fez contraste com o universo. Um pinho,
Enraizado como rocha, esticava através da vacância
Seus galhos balançantes, a cada golpe inconstante
Cedendo uma só resposta, a cada pausa
Em cadência da mais familiar, com o uivo
O trovão e o chiado de riachos sem lar
Misturando sua canção solene, enquanto o rio largo
Espumando e apressando sobre seu caminho árduo,
Caía naquele vazio imensurável
Espalhando suas águas pelos ventos passantes.

Entretanto o precipício cinzento e o pinho solene
E a torrente não eram tudo; — um recanto silencioso
Estava lá. Mesmo à beira daquela montanha vasta,
Mantida de pé por raízes nodosas e rochas caídas,
Ele supervisionava em sua serenidade
A terra escura, e a abóbada curva de estrelas.
Era um ponto tranquilo, que parecia sorrir
Mesmo no colo do horror. Hera segurava
As pedras fissuradas com seus braços emaranhantes,
E abrigavam com folhas para sempre verdes,
E escuras bagas, o espaço liso e plano
De seu chão inviolado, e aqui
Os filhos do redemoinho outonal carregavam,
Em esporte ousado, aquelas folhas brilhantes, cuja decadência,
Vermelha, amarela ou eterealmente pálida,
Rivaliza com o orgulho do verão. É o antro
De todo vento gentil, cujo fôlego pode ensinar
As selvas a amar a tranquilidade. Um passo,
Um só passo humano, havia alguma vez quebrado
A quietude de sua solidão: — uma voz
Sozinha inspirou seus ecos; — mesmo esta voz
Que para cá veio, flutuando entre os ventos,
E levou as mais amáveis dentre as formas humanas
A fazer de seus antros selvagens o repositório
De toda a graça e beleza que dotavam
Seus movimentos, desistir de sua majestade,
Espalhar sua música na tormenta insensível,
E para as folhas úmidas e mofo azul da caverna,
Amas de flores iridescentes e do musgo espalhado,
Cometer as cores daquela face variante,
Aquele seio níveo, aqueles olhos escuros e entrefechados.

A lua cornuda e tênue pairou baixa, e derramou
Um mar de lustro na beira do horizonte
Que transbordava suas montanhas. Névoa amarela
Preencheu a atmosfera ilimitada, e bebeu
Luz fraca da lua até a saciedade; nem uma estrela
Brilhava, nem um som era ouvido; os próprios ventos,
Companheiros severos do perigo, naquele precipício
Dormiam, seguros em seu abraço. — Ó, tormenta de morte!
Cuja velocidade cega divide a noite taciturna:
E tu, Esqueleto colossal, que, ainda
Guiando sua carreira irresistível
Em tua onipotência devastadora,
És rei deste mundo frágil, desde o campo vermelho
Da carnificina, desde o hospital fétido,
O leito sagrado do patriota, a cama nívea
Da inocência, o cadafalso e o trono,
Uma voz poderosa invoca a ti. Ruína convoca
Seu irmão Morte. Uma presa rara e real
Ele havia preparado, perambulando ao redor do mundo;
Engordado com a qual tu poderá repousar, e homens
Irem às suas covas como flores ou vermes rastejantes,
Nem nunca mais oferecerem em tua capela escura
O tributo despercebido de um coração partido.

Quando no limiar do nicho verde
As pegadas do peregrino caíram, ele sabia que a morte
Estava sobre ele. Mas um pouco, antes que ela fugisse,
Ele desistiu de sua alma superior e sagrada
Para imagens do passado majestoso,
Que pausava dentro de seu ser passivo agora,
Como ventos que carregam música doce, quando eles respiram
Através de alguma escura câmara gradeada. Ele colocou
Sua mão pálida e magra sobre o tronco áspero
Do velho pinho. Sobre uma pedra com heras
Reclinou sua cabeça lânguida, seus membros descansaram,
Difusos e imóveis, na borda lisa
Daquele mais profundo abismo; — e assim ele deitou,
Rendendo-se aos impulsos finais
Dos poderes flutuantes da vida. Esperança e desespero,
Os torturadores, dormiam; nenhuma dor ou medo mortais
Estragavam seu repouso; os influxos da sensação,
E seu próprio ser imperturbado pela dor,
Mas mais débil e mais débil, calmamente nutriam
A corrente do pensamento, até que ele deitava respirando lá
Em paz, e sorrindo sutilmente: — sua última visão
Foi a grande lua, que sobre a linha ocidental
Do mundo amplo seu chifre poderoso suspendeu,
Com cujos raios dúnicos enredados em trevas parecia
Se misturar. Agora sobre as colinas afiadas
Ela descansa; e ainda enquanto a figura dividida
Do vasto meteoro afundava, o sangue do Poeta,
Que ainda batia em simpatia mística
Com a ressaca da natureza, ficou mais débil ainda:
E quando dois pontos de luz minguantes sozinhos
Cintilaram através da escuridão, o arfar alternante
De sua respiração tênue escassamente perturbou
A noite estagnada: — até que o raio mais diminuto
Foi apagado, o pulso ainda deteve-se em seu coração.
Ele pausou — ele palpitou. Mas quando os céus permaneceram
Absolutamente negros, as sombras enevoadas envolveram
Uma imagem, silenciosa, fria, e imóvel,
Como sua própria terra sem voz e ar vacante.
Mesmo como um vapor nutrido com raios dourados
Que distribuía a luz do sol, antes do oeste
O eclipsar, era agora aquela figura maravilhosa —
Nenhuma sensação, nenhum movimento, nenhuma divindade —
Um alaúde frágil, em cujas cordas harmoniosas
O fôlego dos céus vagueava — uma corrente brilhante
Uma vez alimentada com ondas de muitas vozes — um sonho
De juventude, que a noite e o tempo haviam apagado para sempre,
Inerte, escuro, e seco, e não lembrado agora.

Oh, pois a alquimia maravilhosa de Medéia,
Que onde quer que caísse fazia a terra cintilar
Com flores brilhantes, e os galhos invernais exalarem
De botões vernais fragrância fresca! Ó, que Deus,
Profuso de venenos, iria conceder o cálice
Que apenas um homem vivo drenou, que agora,
Vaso da cólera imortal, um escravo que sente
Nenhum privilégio orgulhoso na maldição perniciosa
Que carrega, sobre o mundo vagueia para sempre,
Sozinho como a morte encarnada! Ó, que o sonho
Do mágico sombrio em sua caverna idealizada,
Rastelando as cinzas de um crucíbulo
Por vida e poder, mesmo quando sua mão débil
Treme em sua última decadência, fosse a lei verdadeira
Deste mundo tão amável! Mas tu é fugido,
Como alguma exalação frágil; que a aurora
Veste em seus raios dourados, — ah! tu fugiste!
O bravo, o gentil e o belo,
O filho da graça e do gênio. Coisas sem coração
São feitas e ditas no mundo, e muitos vermes
E bestas e homens continuam vivendo, e a Terra poderosa
Do mar e montanha, cidade e selva,
Em baixas vésperas ou oração jubilosa,
Levanta ainda sua voz solene: — mas tu é fugido —
Tu não pode mais conhecer ou amar as formas
Desta cena fantasmal, que têm para ti
Sido ministros dos mais puros, que são, aliás!
Agora tu não és. Sobre aqueles lábios pálidos
Tão doces mesmo em seu silêncio, naqueles olhos
Que espelham o sono na morte, sobre aquela forma
Ainda segura contra o ultraje do verme, deixe nenhuma lágrima
Ser derramada — nem mesmo em pensamento. Nem, quando aquelas matizes
Se forem, e aqueles mais divinos lineamentos,
Usados pelo vento insensível, devem viver sozinhos
Nas pausas frágeis deste esforço simples,
Não deixe o alto verso, lamentando a memória
Daquilo que não mais é, ou o pesar da pintura
Ou escultura, pronunciar em imagética débil
Seus próprios poderes frios. Arte e eloquência,
E todos os espetáculos do mundo são frágeis e vãos
Para chorar uma perda que torna suas luzes em sombra.
É uma angústia "muito profunda para lágrimas," quando tudo
É arrancado de uma vez, quando algum Espírito sobrepassante,
Cuja luz adornou o mundo ao seu redor, deixa
Àqueles que ficaram para trás, não soluços ou gemidos,
O tumulto apaixonado da esperança perdurante;
Mas desespero pálido e tranquilidade fria,
O panorama vasto da Natureza, a teia de coisas humanas,
Nascimento e a cova, que não são como eram.