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31 de maio de 2010

O tempo em Alice


O nome de Charles Lutwidge Dodgson não ficou conhecido na história pelas aulas de matemática no Christ College de Oxford, Inglaterra, ou pelas artimanhas e brincadeiras com números, lógica e linguística, nem pela capacidade crítica que expressava, talvez devido à sua timidez, acobertada por jogos de palavras ou tramas aparentemente sem sentido. Mas com certeza, esses antecedentes contribuiriam muito quando reunidos em duas narrativas sobre uma menina chamada Alice, primeiro no País das Maravilhas, depois Através do Espelho, adotando o pseudônimo de Lewis Carroll. A intrincada rede linguística dos consagrados textos, carregada de alegorias e simbolismo, traz ao menos estas considerações sobre tempo que analisaremos. Observem que muitos outros pontos podem aludir ao tempo, sua passagem ou elementos relacionados; trataremos apenas de alguns.

O tempo é um dos temas centrais em Alice; especificamente, sua passagem em relação à personagem central. Afastada qualquer especulação sobre a vida particular de Carroll, ele nos revelou que prezava a ingenuidade da mente infantil, sua inventividade e imaginação, logo no poema dedicatório de Alice no País das Maravilhas. As narrativas de Carroll abordam como a mente inocente de uma criança percebe as regras e convenções do mundo adulto, e elogiam essa inocência, ao lamentar um inevitável enrijecimento ou entorpecimento do espírito que viria com o amadurecimento para a vida adulta. As narrativas, então, seriam como as fotografias que Carroll tirou de Alice menina: uma imagem - uma mente - paralisada no tempo, eternamente criança.

Em meio ao rico imaginário criado por Carroll para compor seus cenários de sonho, um dos primeiros personagens encontrados por Alice representa o tempo: o Coelho Branco. O coelho vestido de casaca e portando um relógio de bolso é uma antítese de Alice, segundo Carroll: "Onde nela há 'juventude', 'audácia', 'vigor' e 'pronta determinação', veja nele 'idoso', 'tímido', 'fraco' e 'nervosamente indeciso'". Assim, ao mesmo tempo que a figura representa o tempo - rápido como um coelho, mas sempre correndo para não chegar atrasado, surgindo ao longo da história para fazer Alice seguir seu curso até o final - tem também características de velho, ansioso, oprimido pelo tempo, escravo dele.

O capítulo "Um Chá Maluco", oferece as maiores alusões ao tempo. Na primeira, a Lebre de Março saca um relógio e estranha que esteja atrasado dois dias, pois usou manteiga da melhor qualidade em seu maquinismo. Em contraste ao oprimido Coelho Branco com tanta atenção ao seu relógio, a louca Lebre satiriza a preocupação com o tempo. Ela representa um "tempo maluco", um tempo para travessuras e brincadeiras, sem muita atenção aos compromissos - como a estrita hora do chá para os britânicos vitorianos. Alice nota que o relógio da Lebre não marca a hora; a Lebre pergunta se o dela marca o ano, ao que responde que não porque "continua sendo o mesmo ano por muito tempo seguido". O Chapeleiro diz que é o caso do relógio dele, denotando que para ele o tempo é sempre o mesmo: ou porque não importa e ele faz o que quer, ou porque para ele não há outro momento que não o do chá. Dependendo da interpretação, os participantes do Chá Maluco podem ser completamente livres em sua loucura, ignorando a pressão do tempo, ou completamente presos, fadados eternamente à hora do chá.

Mais adiante, há um diálogo inteiro dedicado expressamente ao tempo. Alice diz que deveriam fazer algo melhor com o tempo, e o Chapeleiro diz que trate dele com mais respeito. Alice diz que o que sabe dele é que precisa bater o tempo para estudar música. O Chapeleiro diz que o tempo não suporta apanhar, e que se Alice fosse boa com ele, poderia pedir favores, como acelerar até a hora do jantar. Alice diz que então não estaria com fome. Há aqui uma notável conjetura: em vez de considerar-se inserida no tempo, sofrendo a ação dele enquanto passa aceleradamente, Alice imagina que sairia do tempo para retornar na hora do jantar, não sofrendo sua ação e portanto não estando com fome.

A seguir, o Chapeleiro conta que a Rainha de Copas ordenou que ele cantasse mas que logo após o começo exclamou: "Ele está assassinando o tempo! Cortem-lhe a cabeça!" O Chapeleiro diz que desde então o tempo não faz o que ele pede e que são sempre seis horas - a hora do chá vitoriano. "Assassinar o tempo" é uma referência à música estar fora do compasso.

Em "Através do Espelho" há também algumas referências a tempo. A primeira, que merece apenas rápida menção, é um neologismo do poema Jabberwocky logo na primeira estrofe: brillig. Carroll explica que deriva do verbo arcaico to bryl ou to broil e designa a hora de preparar o jantar. Como o poema inteiro, o termo foi traduzido para o português de diversas maneiras: briluz (Augusto de Campos), solumbrava (Maria Luiza Borges), catarde (Letícia Dansa), assador (William Lagos), brilumia (Ricardo Gouveia), briarde, brilíngue ou brilurde (Yara Azevedo Cardoso).

Após conversar com a Rainha Vermelha, esta corre de mãos dadas com Alice cada vez mais rápido, mas Alice percebe que  as coisas ao redor não pareciam se mexer. Ela pergunta se estão quase lá, e a Rainha responde: "Quase lá! Ora, nós o passamos dez minutos atrás!" Quando páram, Alice pergunta porque pareciam estar no mesmo lugar, e a Rainha diz: "Pois aqui, como vê, você tem de correr o mais que pode para continuar no mesmo lugar". Se "quase lá" é estar próximo de chegar e elas haviam passado deste ponto, estavam ainda mais próximos de chegar, ou já haviam chegado mas continuaram. Mas nunca saíram do lugar - já haviam chegado - logo "quase lá" pode se referir a um momento antes mesmo de começarem a correr.

Como o Chá Maluco do primeiro livro, no segundo livro o capítulo "Lã e Água" oferece as maiores considerações sobre o tempo. Nele, Alice conversa com a Rainha Branca. Em certo momento, a Rainha oferece contratar Alice por "dois pence por semana e geleia em dias alternados". Alice diz não querer geleia hoje, e a Rainha diz que não poderia ter: "A regra é: geleia amanhã e geleia ontem... mas nunca geleia hoje". Alice diz que isso eventualmente chegaria a geleia hoje. A Rainha então diz que não em termos difíceis de traduzir para o português: "É geleia todo OUTRO dia: hoje não é qualquer OUTRO dia, você sabe" (It's jam every OTHER day: to-day isn't any OTHER day, you know). É um problema de lógica linguística: "amanhã" refere-se ao dia depois de "hoje", que por sua vez refere-se ao dia presente. O futuro, logo, nunca se alcança, e nunca se conseguirá a deliciosa geleia.

Este diálogo dá lugar à revelação pela Rainha de que vive às avessas, e de que sua memória funciona nos dois sentidos. Ela se "recorda" da execução do Chapeleiro Louco que ocorrerá dali a duas semanas, e grita de dor por que irá furar o dedo com o alfinete. Em seguida ela fura o dedo, mas não grita novamente de dor, por já ter gritado. A "memória" da Rainha Branca equivale a prever o futuro sem poder evitá-lo, o que levanta questões sobre o determinismo e a mutabilidade do futuro.

Concluo tratando do capítulo "Humpty-Dumpty", origem de uma das referências mais divertidas das narrativas de Alice sobre o tempo. Vendo um ovo crescer e ganhar face e membros, Alice se aproxima e percebe que é Humpty Dumpty, personagem de uma rima infantil. Após alguma discussão, Alice pergunta sobre seu cinto, e o irrita porque ele diz tratar-se de uma gravata. Diz tê-la ganho como presente de desaniversário. Com a dúvida de Alice, Humpty explica que só há um aniversário por ano, mas há trezentos e sessenta e quatro desaniversários.

Então (a menos que seja seu aniversário) Feliz Desaniversário!

28 de maio de 2010

O Relógio do Apocalipse

 
Criado em 1947 e mantido desde então por cientistas do Bulletin of the Atomic Scientists da Universidade de Chicago, incluindo Stephen Hawking e outros 18 agraciados com o Prêmio Nobel, o Relógio do Apocalipse simboliza quão perto o mundo está de uma guerra nuclear capaz de devastá-lo por completo, marcando quantos minutos faltam para a meia-noite.

Na sua criação, nos primórdios da Guerra Fria, o relógio marcava 7 minutos para a meia-noite. Desde então, têm sofrido ajustes conforme a situação nuclear ao redor do mundo melhora ou piora. O critério para as mudanças não é exato, ficando a cargo dos cientistas responsáveis, e imagino que fatores políticos sejam determinantes - como no caso da crise dos mísseis de Cuba em 1962, que não afetou uma fase de melhoras nas marcações do relógio.

 
O momento mais próximo do Apocalipse ocorreu em 1953: 2 minutos para a meia-noite. Os Estados Unidos persistiram no desenvolvimento da bomba de hidrogênio, e 1º de novembro de 1952, testaram seu primeiro dispositivo termonuclear, chamado de "Salsicha". O dispositivo utilizava a chamada configuração Teller-Ulam e tinha carga de 10.4 megatons (comparativamente, a "Fat Man" lançada sobre Nagasaki tinha carga de 21 quilotons). No teste com codinome "Ivy Mike", a "Salsicha" foi lançada sobre o Atol de Enewetak, nas Ilhas Marshall, destruindo completamente a Ilha Elugelab e deixando uma cratera que pode ser vista até hoje.
Baseado no teste feito pelos Estados Unidos, a União Soviética deixou de lado sua configuração "Truba" e concentrou-se na configuração "Sloika", realizando em 12 de agosto de 1953 o teste que os americanos apelidaram de "Joe 4", uma bomba de 400 quilotons, lançada no sítio de testes Semipalatinsk, adjacente à cidade de Kurchatov, no Cazaquistão.

O momento mais distante do Apocalipse ocorreu em 1991: 17 minutos para a meia-noite. O Muro de Berlim havia caído em 1989, marcando o colapso generalizado da União Soviética. O então presidente dos EUA Ronald Reagan, em uma manobra que muitos apontavam como sendo de estabelecer vantagem, reiterou uma proposta de redução armamentista que já vinha apresentando desde 1982. Desta vez a proposta era recebida pelo Secretário-Geral Mikhail Gorbachev, que lidava com a crise soviética através de reformas malfadadas, além da ameaça militar crescente dos EUA. Em 31 de julho de 1991, ambos assinaram o Tratado de Redução de Armas Estratégicas (Strategic Arms Reduction Treaty ou START-I), que só veio ter efeito mais tarde devido à dissolução da União Soviética no fim do ano, e apenas sobre 4 das nações independentes remanescentes: Rússia, Bielorrúsia, Cazaquistão e Ucrânia. Na conformação política, surgiram várias medidas unilaterais que atenuaram ainda mais a ameaça nuclear.

A última alteração do relógio ocorreu em janeiro de 2010: 6 minutos para a meia-noite. Após o START-I, II e III, negociações foram iniciadas para o "New START", que por si só já influenciaram o relógio. A assinatura ocorreu em 8 de abril de 2010. O Bulletin menciona também que Barack Obama é o primeiro presidente dos Estados Unidos a manifestar-se favoravelmente a um mundo livre de armas nucleares, e que a Conferência de Copenhague, de dezembro de 2009, indica uma conjuntura internacional dirigida à redução dos problemas ambientais, especialmente no impacto climático.

Desde sua criação, o relógio apareceu em todas as capas do Bulletin, e consta na abertura de sua página na Internet.

O Relógio do Apocalipse é um símbolo poderoso para o fim do mundo, e tanto da inconsequência das ações do homem como de sua volúvel relação com a ciência, aqui representado pelo perfeito exemplo da energia nuclear. Perfeito pois reúne a embasbacante capacidade do ser humano de dominar a natureza, e o também embasbacante impulso de utilizar tal domínio para a destruição.

Faltam 6 minutos para a meia-noite.


25 de maio de 2010

A revisão preliminar

Ao escrever um texto, percebi algumas etapas pelas quais, de uma forma ou outra, percorro até chegar a um resultado que considere satisfatório. Depois de formado o conceito ou ideia inicial, há a definição de elementos mínimos, passando à criação do texto em si. Depois de muito experimentar, passei a prezar mais os textos produzidos em um impulso espontâneo, do que os estruturados conforme um plano preliminar. Ou seja, quando deixei de lado uma ideia para fazer pesquisas, encontrar material, criar perfis para personagens e definir elementos da ambientação, a vontade para contar a história foi se atenuando até, em vários casos, desaparecer. Insistir em escrever a história com pouca ou nenhuma motivação teve resultados péssimos.

Seguir o impulso inicial, apesar de também ter rendido muitos textos de falsa qualidade - aqueles que julgamos excelentes assim que terminamos, mas quando voltamos a ler depois de um tempo nos causam vergonha - rendeu os melhores contos que escrevi. Posso descrever esse impulso como uma ideia para uma história que envolve tanto os seus pensamentos que não é possível pensar em outra coisa. E ao pensar nela, os detalhes da história vão surgindo e preenchendo a cabeça, e precisam ser colocados para fora para dar lugar aos que se seguem, sob o risco de não ser possível lembrar de tudo depois.

Seja esquematizado, seja espontâneo, a criação desse corpo de texto inicial é exatamente isso, uma base. Há então a etapa da revisão do próprio autor. Eu procuro fazer nesse momento uma revisão superficial e rápida procurando apenas erros grosseiros e últimas adições. Então deixo o texto de lado, para pensar sobre a história sem lê-la. E é nessa etapa em que realizo pesquisas e busco outros materiais e referências com que possa enriquecer o texto. Nos dias seguintes, posso fazer uma ou outra alteração baseada na "leitura sem ler" e no material pesquisado, para então dar a etapa como concluída. Tive e superei um vício possível nessa etapa que é o de continuar adicionando e alterando o texto-base pontual e gratuitamente, ultrapassando um mero ajuste estético ou melhorias na língua ou na coesão. O escritor então nunca pára de mudar o texto, e se persistir nisso o resultado final pode ficar poluído e instável, com fluidez e coesão prejudicadas.
 
Encerrada a revisão do autor, o processo criativo ainda não terminou, por melhor - ou pior - que esteja o texto. O passado está cheio de exemplos de artistas que consideravam obras aclamadas como suas obras-primas como sendo inferiores a outras, obscuras e menosprezadas; ou que em ímpetos de frustração ou desencanto destruíram grandes porções de suas obras. Atribuo a isso o fato de o autor ser um péssimo crítico de sua própria obra, se admitir interpretação outra que não a sua própria. Querendo dizer que, a menos que o autor pretenda que o sucesso de seu texto seja a compreensão pelo leitor de uma ideia prestabelecida, que tenha apenas uma interpretação, ele próprio terá de recorrer à opinião de outras pessoas sobre o texto, para que eles possam interpretá-lo conforme seus próprios conhecimentos e convicções.

Esta etapa faz parte do processo criativo. Não considero o texto ainda como definitivo, tentando me manter aberto para as sugestões, críticas e dúvidas desses "leitores de teste". Aberto, vale dizer, na medida certa; creio ser fundamental estar convicto do objetivo do texto, e de qualquer escolha estilística, para que haja um critério para filtrar as opiniões recebidas. Eu pratico um equilíbrio entre prezar a opinião a ponto de ver como o texto ficaria com a alteração sugerida, e me resguardar o direito de não fazê-la se não fizer sentido. O que faço idealmente é passar o texto como estiver para a pessoa ler, para então contar para ela a história e esclarecer o objetivo e a trama, visando detectar pontos obscuros, buracos na trama, inconsistências e outros elementos reparáveis. Se a pessoa ler com atenção aos detalhes e ainda assim não compreender a trama ou tirar conclusões indesejáveis, é possível ao escritor ouvir os argumentos para a interpretação e consertar o texto - ou, o que é extremamente válido, ter uma noção alternativa da história, que pode motivá-lo a não alterar nada e permiti-la.

É difícil encontrar, todavia, alguém disposto a ler o texto - talvez várias vezes - e conversar assim tão profundamente com o autor. Na maioria das vezes, quase suplico para que as pessoas que leiam um texto apontem erros e comentem a história. Percebo que há um receio natural de fazer críticas ao texto diretamente ao autor. Acho que é o autor quem deve quebrar esse receio se acha válido receber opiniões sobre seus textos, mas é bastante difícil. Para mim tem funcionado perceber quais pessoas estão mais dispostas e insistir com elas, sempre demonstrando estar aberto às críticas que vierem, para que elas se sintam à vontade para se expressar.

Considero extremamente válida essa revisão preliminar, utilizando os "leitores de teste", mas como já mencionei em mensagem anterior, ela não deve ser considerada suficiente para gerar um texto definitivo. É fundamental a submissão do texto à revisão técnica, visando o aperfeiçoamento e limpeza final do texto e, com isso, uma tranquilidade maior para o autor que visa publicá-lo.

24 de maio de 2010

Até o momento (2)

Trabalhei para terminar os quatro contos que concluíram o livro: "Controle Remoto", "Mulheres e Crianças Primeiro", "Ouroboros" e "Entre Segundos". Um total de 15 contos, 160 páginas em A4. A ordem para os contos parecia evidente: ficariam organizados na ordem cronológica, considerando a época em que são ambientados. Os contos e sua ordem são:

   1. Espelhos da Alma
   2. Beijo de Ópio
   3. Primeiro-Tenente
   4. Ouroboros
   5. Carolina de Óculos
   6. Entre Segundos
   7. Saudações do Futuro
   8. Parafuso Frouxo
   9. Mulheres e Crianças Primeiro
  10. A Maçã Elétrica
  11. Futuro Seguro
  12. Na Linha de Montagem
  13. Controle Remoto
  14. Planeta Asfalto
  15. A Água de Croma

Enquanto os escrevia, e antecipando uma publicação futura, passei os textos para amigos lerem, darem opiniões e apontarem erros. Fiz isso várias vezes, para várias pessoas, tendo como principal objetivo não me concentrar nas opiniões de uma ou outra pessoa. Apesar das diversas colaborações, havia feito a mesma coisa para o primeiro livro, e inclusive contado apenas com isso como revisão de texto, o que foi um engano. Há pessoas que se concentram na gramática e ortografia e não analisam a construção, coesão e coerência, e vice-versa. Há aqueles que deixam seus próprios gostos e opiniões contaminarem a análise, e deixam de indicar elementos que o autor poderia corrigir. O melhor a fazer é submeter seu texto a alguém que saiba ver o texto imparcialmente em sua totalidade e além, ou seja, que analise não apenas o uso da língua, mas também o desenvolvimento da narrativa, a adequação do tema, o tratamento da ambientação e dos elementos da história, o ritmo, o objetivo da narração, e quaisquer outros fatores que levem à apreciação da história conforme pretendido pelo autor.

Mas não acredito que seja suficiente o conhecimento da língua e de produção de textos. Acredito que haja um elemento criativo que só pode ser bem compreendido por alguém que já tenha produzido textos, e que saiba o que é sucesso ou frustração em relação ao objetivo do texto. É algo que um leitor não compreende, assim como um ouvinte não percebe tudo o que alguém lhe relate, porque envolve coisas que o autor não está pondo no texto, mas que ainda assim o influencia.

Após ter feito uma última revisão própria do texto completo do livro, e ter ficado satisfeito com os títulos dos contos e questões de formatação, procurei alguém que pudesse revisar o texto, que atendesse aos critérios que descrevi acima. Apresentarei mais detalhes conforme os resultados.

Até o momento (1)

Para a publicação experimental de meu primeiro livro, resolvi fazê-la de modo independente, querendo dizer que arcaria com todos os custos de impressão e assumiria o trabalho de vender os livros depois. Portanto, estava resolvido a fazer uma tiragem pequena. Na busca por formas de imprimir o livro em 2006-2007, descobri editoras que ofereciam a impressão com metodologia digital, oposta à off-set tradicional. O método digital permite tiragens muito pequenas e impressão sob demanda, mas impõe algumas restrições ao resultado final, especificamente a encadernação. Tendo a prioridade de publicar poucos livros, me decidi por uma dessas editoras, e por resultado obtive 100 exemplares a um custo unitário de R$20,40. A princípio, imaginei se poderia vendê-los por um valor que permitiria o lucro, com o qual faria mais exemplares. Logo, o preço unitário e as dificuldades na divulgação e distribuição descartaram essa ideia. (Meu primeiro livro "Histórias Estranhas", na página da editora)


Alguns dos contos que integram "A Quarta Dimensão" já estavam escritos em 2003, antes do primeiro livro ser concluído e de eu ter a ideia para um livro de contos sobre o tempo. Quando a ideia de lançar "Histórias Estranhas" foi se aproximando da realidade, inevitavelmente cogitei o que viria a seguir. Analisei meus contos e logo percebi que muitos abordavam o tempo, pela ambientação no passado ou no futuro, ou por contato entre épocas diferentes. Alguns poderiam figurar sem dificuldade, por lidarem com memórias e contato entre gerações. A princípio incluí três contos que se passavam no presente, mas sem nenhum contato com o tempo, apenas para dar mais corpo ao livro. Nunca fiquei realmente satisfeito com isso, sentia que estavam deslocados e que facilmente seriam detectados como "penetras". Resolvi tirá-los, e fazer algo que nunca havia feito: escrever contos voltados especificamente à temática, para integrar o livro. O nome original da coletânea era "Futuro Passado, ou Passado Futuro" - uma brincadeira com os dois termos para que ambos significassem o tempo presente, que no futuro é o passado, e que no passado é o futuro.

À medida que ia buscando inspiração e escrevendo os contos remanescentes, dois fatos felizes ocorreram. O primeiro foi ter enviado um conto para a primeira edição do concurso "Servir com Arte", em 2008, da Escola de Governo do Paraná, que premiava textos de servidores públicos estaduais nas categorias conto e poesia. Meu conto "Saudações do Futuro" recebeu o prêmio de Melhor Conto, figurando em coletânea publicada com os textos vencedores. Diferente do primeiro livro, cujo melhor conto, "Pinus", só o era mediante a opinião de amigos, meu segundo livro contaria - contará, melhor dizendo - com um conto premiado, de qualidade reconhecida. (Agência Estadual de Notícias - Vencedores do concurso Servir com Arte recebem prêmios na Escola de Governo - 11/11/2008)


O segundo foi o de ter, em buscas por inspiração, esbarrado várias vezes no conceito de dimensões empregado pela Física moderna, que trata o tempo como uma quarta dimensão, sendo as três primeiras - largura, altura e comprimento - dimensões espaciais. A quarta dimensão, assim, integra uma noção de espaço-tempo, essencial para a ciência moderna e empregada na Física Teórica quando se debruça nas especulações mais imaginativas sobre o futuro, como viagem espacial, teletransporte e viagem no tempo. O lampejo derradeiro, todavia, aconteceu em um daqueles momentos de devaneio, quando estava passando o tempo com um jogo que encontrei na Internet, que envolvia fazer o personagem pular para evitar os buracos em um túnel tridimensional que vinha cada vez mais rápido na minha direção. Falhei e recomecei inúmeras vezes, e em dado momento a constante repetição me atingiu com a ideia de chamar o livro de "A Quarta Dimensão". Minha apreciação por um seriado fantástico dos anos 50 chamado "A Quinta Dimensão" (originalmente "Outer Limits"), emprestava ao título algo de tributo e não tive mais dúvidas. (O jogo "Run", na página Kongregate, e um resumo sobre "A Quinta Dimensão")

O início dos tempos

Meu nome é Eduardo Capistrano, sou paranaense de Curitiba, nascido em 1980. Escrevo contos desde o ano 2000, e em 2003 tinha contos suficientes para considerar a publicação de uma coletânea. Resolvi reunir todos os contos fantásticos em um livro intitulado "Histórias Estranhas", que planejei publicar assim que pudesse, o que só ocorreu em 2007. Desde o início sabia que estava fazendo um experimento, com o qual aprendi muito. Exatamente por isso, tentarei fazer as coisas de maneira diferente.

É 2010, e estou concluindo meu segundo livro, intitulado "A Quarta Dimensão". É uma coletânea de 15 contos que abordam o tempo, o que explica o título. Estando decidido a publicar o livro, e considerando o tema de que ele trata, resolvi fazer um diário para descrever tudo o que faço e o que acontece até sua publicação, para documentar os fatos que acontecem no processo.

Espero com isso não só ter uma cronologia detalhada da publicação, para que eu e quem se interessar possa aprender com os meus erros e acertos, mas também expor o perfil do mercado editorial brasileiro do ponto de vista de um autor iniciante.

Agradeço desde já qualquer comentário, sugestão ou crítica.