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21 de novembro de 2016

CHRISTABEL - Samuel Taylor Coleridge

 A meio caminho da cama ela se levantou então,
E sobre os cotovelos se reclinou ela
Para olhar para Geraldine, a donzela.


"The Blue Fairy Book", ilustração de H. J. Ford e Lancelot Speed para "Christabel"

CHRISTABEL de Samuel Taylor Coleridge (1772-1834)
Traduzido por Eduardo Capistrano
(preservando a mesma estrutura de rima)

(Esta tradução, acompanhada do texto original, está no livro Lamento e Perdição.)

PARTE I

É o meio da noite, pelo relógio do castelo adiante,
E as corujas despertaram o galo cantante;
Tu--whit!----Tu--whoo!
E escute, de novo! o galo cantante,
Quão preguiçosamente ele cantou.
O rico Barão, Sir Leoline,
Tinha uma cadela banguela mastim;
Sob a rocha, de seu canil repousante
Ao relógio fazia resposta uivante,
Quatro para os quartos, e doze para a hora;
Todo tempo e sempre, faça sol ou chuva lá fora,
Dezesseis uivos curtos, não altos demais;
Dizem que vê minha senhora em vestes fantasmais.

É a noite fria e escura?
A noite é fria, mas não escura.
A fina nuvem cinzenta está alta ao léu,
Ela cobre mas não esconde o céu.
A lua está atrás, e está plena;
E mesmo assim parece sem graça e pequena.
A noite é fria, cinzenta é a nuvem:
É um mês e Maio é o mês que vem,
E a Primavera lento curso para estes lados tem.

Christabel, a amável dama,
A quem seu pai tanto ama,
O que faz ela na mata tão tarde, longe
Do portão do castelo a um furlong?
Pela noite anterior seu sonho foi preenchido
Por seu próprio cavaleiro prometido;
E ela na mata à meia-noite irá rezar
Pelo bem-estar de seu amante que longe está.

Ela furtou-se em frente, ela nada falou,
Apenas suspiros suaves e baixos soltou,
E nada era verde sobre o carvalho além
Do musgo e do mais raro visco também:
Ela se ajoelha sob o carvalho imenso,
E então rezou em silêncio.

A dama, súbito, tinha se levantado,
Christabel, a amável senhorita!
Algo gemeu perto, muito chegado,
Mas o que era não podia ser por ela descrita. --
O que fosse parecia estar do outro lado,
Do imenso, velho carvalho entroncado.

A noite é gelada; nua é a floresta;
É o vento que geme deplorável?
No ar vento suficiente não resta
Para o anelado cacho soprar
Da face da dama amável --
Não há vento suficiente para girar
A única folha vermelha, a última da dinastia,
Que dança tanto quanto dançar podia,
Tão leve pairando, e tão alta pairando,
No ramo mais ao topo o céu acima olhando.

Coração palpitante de Christabel, calma!
Jesu, Maria, protejam sua alma!
Os braços sob seu manto cruzou,
E para o outro lado do carvalho se furtou.
O que ela vê lá?

Lá ela vê uma brilhante donzela,
Vestida de branco sedoso estava ela,
Que sombriamente à luz da lua brilhou:
O pescoço que aquele robe branco debilitou,
Seu pescoço majestoso, e braços estavam despidos;
Seus pés com veias azuis de sandálias desprovidos,
E loucamente cintilavam aqui e lá
As gemas emaranhadas no cabelo dela.
Eu acho, ver tal coisa era estarrecente
Uma dama como ela vestida tão ricamente --
Bela excessivamente!

Salve-me agora, mãe Maria!
(Disse Christabel), E quem tu serias?

A estranha dama uma resposta encontrou,
E com voz débil e doce falou: --
Tenha piedade de minha sofrida tristeza,
Eu mal posso falar pela fraqueza:
Estique à frente tua mão, e não te assustes!
Disse Christabel, Como tu aqui chegaste?
E a dama, cuja voz débil e doce falou,
Assim seguiu com resposta que encontrou: --

Meu senhor é de uma nobre linha,
E meu nome é Geraldine:
Fui na manhã de ontem por cinco guerreiros cercada,
Eu, eu mesma, uma donzela desamparada:
Com força e pavor meus gritos eles sufocaram,
E em um branco palafrém me amarraram.
O palafrém era como o vento veloz,
E eles cavagaram com fúria logo após.
Seus corcéis brancos, eles apressados esporaram:
E uma vez a sombra da noite nossos cavalos cruzaram.
Tão certo quanto o Paraíso deverá me resgatar,
Que homens são eles, não tenho o que pensar;
Nem sei eu quanto tempo fazia
(Pois é certo que em um transe eu jazia)
Desde que um, o mais alto dos cinco,
Tirou-me das costas do palafrém,
Uma mulher cansada, viva por pouco.
Seus camaradas falaram algumas palavras murmuradas:
E embaixo deste carvalho deixou-me colocada;
Ele jurou que com pressa iriam retornar;
Aonde eles foram eu não posso dizer --
Alguns minutos atrás, eu pensei escutar,
Sons como os de um sino de castelo a bater.
Estique à frente tua mão (assim terminou ela),
E ajude a fugir uma miserável donzela.

Então Christabel esticou a mão dela adiante,
E confortou a bela Geraldine:
Oh bem, brilhante dama! seja você a comandante
Do serviço de Sir Leoline;
E alegremente nossa robusta cavalaria
Irá ele encaminhar e amigos com que dar
Para você guarda segura e livre, e guia
Até os salões de seu nobre pai, seu lar.

Ela levantou: e adiante passos elas deram
Que tentavam ser rápidos, mas não eram.
A dama abençoou suas estrelas graciosas,
E assim falando a doce Christabel, continuou ela:
Toda a nossa morada está ociosa,
O salão tão silencioso quanto a cela;
Sir Leoline está com a saúde curta,
E pode não bem acordado estar,
Mas nós nos moveremos como quem furta,
E sua cortesia eu preciso implorar,
De esta noite, seu leito comigo compartilhar.

Elas cruzaram o fosso, e Christabel
Pegou a chave bem encaixável:
Uma pequena porta ela abriu ligeira,
No meio do portão ela inteira.
O portão que era de ferro do lado de dentro e fora,
Onde uma tropa em formação marchou embora.
A dama afundou, provavelmente pela dor,
E Christabel com força e vigor
A levantou, um peso com exaustão,
Sobre o limiar do portão:
Então a dama de pé tentou se pôr,
E se moveu, como se ela não estivesse em dor.

Então livres de perigo, do medo livradas,
Elas cruzaram o pátio: estavam muito animadas.
E Christabel gritou devotamente
Para a dama que estava dela rente,
Louvemos nós a Virgem toda divina
Que resgatou a ti de teu sofrimento!
Ai, ai! disse Geraldine,
Eu não posso falar por exaurimento.
Então livres de perigo, do medo livradas,
Elas cruzaram o pátio: estavam muito animadas.

A mastim velha, fora de seu canil
Deitada dorme pesado, à luz da lua, no frio.
A velha mastim não veio a acordar,
Apesar de um gemido bravo ela dar!
E o que à cadela mastim afligiria?
Nunca até agora ela um grito deu
Perante o olho de Christabel.
Talvez seja um filhote de coruja que pia:
Pois o que à cadela mastim afligiria?

Elas passaram o salão, que ecoa ainda,
Passe tão levemente quanto você pretenda!
As brasas estavam quietas, as brasas estavam morrendo,
Em meio às suas próprias cinzas brancas jazendo;
Mas lá veio, quando passou a dama
Uma língua de luz, um ataque de chama;
E Christabel viu da dama o olhar,
E depois daquilo nada mais pôde enxergar,
Salvo o relevo do escudo de Sir Leoline nobre,
Que pairava na parede em um velho nicho lúgubre.
Disse Christabel: Ó, caminhe suavemente,
Para meu pai é raro dormir tranquilamente.

A doce Christabel seus pés revelando,
E o ar ouvinte invejando
Seu rumo de escada a escada vão furtando,
Agora em claridade, e agora em escuridão,
E agora eles passam pelo quarto do Barão,
Tão quieto como a morte, com respiração contida!
E agora a porta do quarto dela alcançaram;
E agora Geraldine comprime
Os cálamos que o chão do quarto forram.

A céu aberto a lua está tênue a brilhar,
E não entra aqui um só raio de luar.
Mas elas podem ver sem a lua luminosa
A sala entalhada de maneira tão curiosa,
Com figuras estranhas e doces entalhada,
Todas feitas pelo entalhador, por sua mente,
Para o quarto de uma dama presenteada:
A lâmpada com dupla e prateada corrente
Aos pés de um anjo está amarrada.

A lâmpada prateada tem fogo morto e sombrio;
Mas Christabel irá aparar seu pavio.
Ela aparou a lâmpada, e fez ela brilhante,
E balançando para cá e para lá a deixou,
Enquanto Geraldine, em tristeza angustiante,
Sobre o chão abaixo afundou.

Ó Geraldine, dama exaurida,
Eu imploro a você, beba esta cordial bebida!
Ele é um vinho de virtuosos poderes;
Minha mãe o fez de flores silvestres.

E irá sua mãe ter piedade de mim,
Que sou uma donzela tão perdida?
Christabel respondeu -- Pobre de mim!
Ela morreu na hora em que eu era nascida.
Eu escutei o frade de cabelos cinzas contar
Como em seu leito de morte ela veio a dizer,
Que o sino do castelo ela iria escutar
No dia de meu casamento doze vezes bater.
Ó mãe querida! que tu estivesses aqui!
Queria, disse Geraldine, que fosse assim!

Mas logo disse ela, com voz alterada --
'Fora, mãe peregrina! Enfraqueça e definha!
Tenho poder para tua fuga ser ordenada.'
Ai! o que aflige a pobre Geraldine?
Porque com olho perturbado está ela a fitar?
Pode ela os mortos sem corpo espiar?
E porque ela grita com voz esvaziada,
'Fora, mulher, fora! esta hora é minha --
Ainda que dela tu sejas o espírito guarda,
Fora, mulher, fora! a mim foi dada.'

Então Christabel ao lado da dama se pôs ajoelhada,
E aos céus elevou os olhos tão azuis dela --
Ai! disse ela, esta atroz cavalgada --
Cara dama! foste desorientada por ela!
A dama enxugou seu rosto úmido e gelado,
E debilmente disse, 'agora está terminado!'

De novo o vinho de flor silvestre ela havia tomado:
Seus belos grandes olhos de novo cintilam brilhantes,
E do chão sobre o qual havia ela afundado,
Ergueu-se ereta a dama elegante:
Ela estava belíssima, isso se via,
Uma dama de um país distante parecia.

E a dama elegante falou então --
'Todos aqueles que no céu superior têm lar,
Amam você, Christabel sagrada!
E você os ama, e com eles em consideração
E pelo bem com que fui agraciada,
Mesmo eu em meu grau irei tentar,
Bela dama, fazer que sejas bem compensada.
Mas agora dispa-se; pois devo orar
Antes de na cama eu me deitar.'

Proferiu Christabel, Assim deixe ser!
E como a dama pediu, ela se pôs a fazer.
Seus membros delicados ela desnudou,
E em sua amabilidade se deitou.

Mas através do cérebro dela de mal e bem
Tantos pensamentos cá e lá se movem,
Que suas pálpebras se fecharem era vão;
A meio caminho da cama ela se levantou então,
E sobre os cotovelos se reclinou ela
Para olhar para Geraldine, a donzela.

Sob a lâmpada a dama foi se curvando,
E com vagar os olhos ao redor rolou;
Então com som alto seu fôlego inspirando,
Como alguém que tremia, ela desamarrou
O cinturão de seu peito abaixo:
O robe sedoso, e a veste de baixo,
Caíram aos pés dela, e todo à vista,
Observem! seu busto e meio flanco --
Uma visão para se sonhar, não para contar!
Ó guardem-na! a doce Christabel devem guardar!

Ainda Geraldine não se mexe e nem fala;
Ah! que olhar chocado era o dela!
Dentro de si, no fundo, ela no meio parece estar
De em ensaio doentio algum peso levantar,
E olha a donzela e procura esperar;
Então súbito, como desafiada por alguém,
Seu escárnio e orgulho por si mesma contém,
E ao lado da Donzela a se deitar vem! --
E nos seus braços a donzela foi colhida,
Ah lamentação!
E com voz baixa e expressão sofrida
Estas palavras falou então:
'No toque deste seio um feitiço eu vou pôr,
De teu falar, Christabel, ele é o senhor!
Tu conheces esta noite, e de amanhã terás conhecimento,
Esta marca de minha vergonha, este selo de meu tormento;
Mas vãmente tu lutas,
Pois isto é somente em
Teu poder de declarar,
Que nas lúgubres matas
Tu escutaste um gemido baixo,
E uma dama brilhante, bela demais, vieste a achar;
E trouxeste ela a teu lar contigo em amor e caridade,
Para guardá-la e do ar úmido a abrigar.'


A CONCLUSÃO DA PARTE I

Era uma visão amável de se olhar
A dama Christabel, quando foi estar
Diante do velho carvalho a rezar.
Entre as sombras afiadas
De musgosas galhadas desfolhadas,
Ajoelhando à luz da lua,
Para fazer suas preces delicadas;
Suas palmas esbeltas juntas pressionando,
Às vezes de seu peito um suspiro soltando;
Sua face resignada em gozo ou dor --
Sua face, oh chame-a de alva e não sem cor,
E os dois olhos azuis não claros mas brilhantes,
Cada um prestes a ficar lacrimejante.

Com olhos abertos (ah, minha dor!)
Adormecida, e sonhando com temor,
Com temor, eu sei, ainda está a sonhar
Sonhando aquilo sozinha, e isso está --
Ó mágoa e vergonha! Pode esta ser ela,
A dama, que ajoelhou ante a árvore velha?
E lá! a operadora desta mazela,
Que segura nos seus braços a donzela,
Parece dormitar quieta e mansa,
Como uma mãe com sua criança.

Uma estrela se pôs, uma estrela fez ascensão,
Ó Geraldine! desde que o abraço teu
Têm sido para a dama amável uma prisão
Ó Geraldine! uma hora foi tempo teu --
Tu tiveste feita tua vontade! Em laguna e regato,
Todos os pássaros da noite na hora ficaram pacatos.
Mas agora eles estão de novo jubilantes,
De penhasco e torre, tu--whoo! tu--whoo!
Tu--whoo! tu--whoo! da mata e montes!

E veja! a dama Christabel
Sai de seu transe em recuperação;
Seus membros relaxam, sua expressão
Fica triste e suave; as pálpebras finas e veludosas
Fecham sobre seus olhos; e lágrimas ela dosa --
Grandes lágrimas que deixam os cílios reluzentes!
E de vez em quando ela parece sorrir
Como crianças com uma luz de repente!

Sim, ela tem sorrido, e ela tem chorado,
Como uma ermitã ainda jovem,
Bonita em uma área selvagem,
Que, sempre rezando, até no sono tem rezado.
E, se ela se move inquietamente,
Talvez, seja o sangue livre tão somente
Que volta e deixa seus pés em formigação.
Sem dúvida, ela teve uma doce visão.
E se o espírito guardião dela quem ali estava,
E se ela soubesse ser sua mãe quem a cercava?
Mas isto ela sabe, em alegrias e tristezas,
Que se os homens chamarem santos vão ajudar:
Pois o céu azul sobre tudo está a se curvar!

1797.


PARTE II

O Barão disse, cada sino matinal
Dobra-nos de volta a um mundo fatal.
Tais palavras Sir Leoline disse em vez primeira,
Quando levantou e encontrou morta sua companheira:
Estas palavras Sir Leoline irá dizer,
Em muitas manhãs até o dia em que morrer!

E assim veio o costume e a lei que há agora
Que o sacristão ainda na aurora,
Que devidamente o sino pesado vai puxar,
Cinco e quarenta contas deve contar
Entre cada batida -- um dobre a alertar,
Que nem uma alma tem escolha a não ser ouvir
Da Nascente do Bratha até Wyndermere.

Disse Bracy o bardo, Então deixe que dobre!
E deixe o sonolento sacristão
Ainda contar como pode, com lentidão!
Não há falta em tal, eu creio,
Pode muito bem preencher o espaço no meio.
No Pico de Langdale e no Lar da Bruxa,
E Dungeon-ghyll tão vilmente locado,
Com sinos de ar e cordas de rocha
Três sacristões pecadores fantasmas estão trancados,
Todos, um depois do outro devolve
A nota de morte para seu irmão que ainda vive;
E às vezes também, pelo dobre ofendido,
Assim que o um! dois! três! dele está concluído,
Do conto doloroso o diabo vai rindo
Com um alegre repique de Borodale vindo.

O ar está parado! através de névoa e nuvem
Aquele alegre repique soando alto vem;
E Geraldine seu pavor espanta,
E levemente da cama se levanta;
Põe suas brancas e sedosas vestimentas,
E seu cabelo com amável dificuldade ornamenta,
E nada suspeitando do feitiço seu
Despertou a dama Christabel.
'Ainda dorme, doce dama Christabel?
Eu creio que você bem adormeceu.'

E Christabel acordou e espiou
A mesma que ao lado dela se deitou --
Ó melhor dizer, a mesma quem ela
Levantou debaixo da árvore velha!
Não, mais bela ainda! e mais bela de se olhar!
Pois bebido fundo ela muito bem pode ter
Todo o abençoamento do adormecer!
E enquanto ela falou, sua expressão, seu ar
Tão gentil agradecimento a declarar,
Que (assim parecia) suas vestes cintadas
Sob seus seios arfantes ficavam apertadas.
'Claro que eu pequei!' disse Christabel,
'Se tudo ficar bem, agora seja louvado o céu!'
E ainda que doce, em tom baixo e hesitante,
A ela cumprimentou a dama elegante
Com tal perplexidade de mente
Como deixa para trás sonhar muito vividamente.

Então ligeira ela levantou, e ligeira juntou
Seus braços de donzela, e depois que rezou
Para que Ele, que na cruz deu gemidos,
Poderia lavar embora seus pecados desconhecidos,
Ela de pronto levou a bela Geraldine
Para encontrar seu senhor, Sir Leoline.

A donzela amável e a alta dama estão
Passando ambas para dentro do saguão,
E depois que pajem e criado passaram,
A sala de recepção do Barão adentraram.

O Barão levantou, e em meio ao aperto
De sua filha gentil contra seu peito,
Com jovial fascínio em seu olhar
A dama Geraldine vem a espiar,
E deu tais boas-vindas à visitante,
Quanto poderia caber a dama tão brilhante!

Mas quando escutou o que a dama tinha a contar,
E quando o nome de seu pai ela contou,
O que fez Sir Leoline tão pálido ficar,
O nome repetidas vezes murmurou,
De Tryermaine, o Lorde Roland de Vaux?
Ai! eles foram amigos na mocidade;
Mas línguas sussurrantes podem envenenar a verdade;
E a constância vive nos reinos superiores;
E a vida é espinhosa; e a juventude é vazia;
E enraivecer com alguém por quem temos amores
Trabalha no cérebro como a insânia.
E então veio a ocorrer, como eu adivinho,
Com Roland e Sir Leoline.
Cada um palavras de alto desdém proferia
E o melhor irmão de seu coração insultou:
Eles se separaram -- e nunca mais um o outro encontraria!
Mas nunca qualquer um outro encontrou
Para o coração vazio das dores livrar --
Eles ficaram impassíveis, as cicatrizes a restar,
Como grandes rochas que fossem estraçalhadas;
Um mar pavoroso flui entre eles agora; --
Mas nem calor, nem gelo, nem trovoada,
Devem completamente, creio, levar embora
As marcas daquilo que foi outrora.

Sir Leoline, em espaço de um momento,
Contemplou a face da donzela com detimento:
E o jovem Lorde de Tryermaine
De volta ao seu coração vem.

Ó então esqueceu sua idade o Barão,
Inchou muito com fúria seu nobre coração;
Ele jurou pelo flanco de Jesu ferido,
Que faria longe e amplamente ser proferido,
Com trombeta e heráldica de solenidade
Que eles, que assim à dama fizeram mal,
Eram reles como a avistada indignidade!
'E se eles ousarem negar fato tal,
Meu arauto irá uma semana indicar,
E os traidores renegados deixados a buscar
Meu pátio de torneio -- que lá e então
Eu possa suas almas répteis tirar
Dos corpos e formas de homens que usando estão!'
Ele disse: seu olho em relâmpago a girar!
Pois a dama foi cruelmente raptada; e ele reconheceu
Na bela dama a filha do amigo seu!

E agora pela face dele o pranto fluiu,
E com carinho em seus braços veio a tomar
A bela Geraldine, que o abraço retribuiu,
Prolongando-o com jubiloso olhar.
Que quando ela viu, uma visão se abateu
Sobre a alma de Christabel,
A visão do medo, o toque e a dor!
Ela encolheu e viu de novo, com tremor --
(Ah, pobre de mim! Era para ser,
Tu donzela gentil! tais vistas ver?)

De novo aquele idoso peito viu,
De novo aquele gelado peito sentiu,
E inspirou o fôlego dela com um sibilante ruído:
Ao que o Cavaleiro virou ao redor incendido,
E nada viu, além de sua própria doce donzela
Com os olhos para o alto, como se rezasse ela.

O toque, a imagem, se esvaneciam
E em seu lugar aquela visão que abençoava,
Com que após o repouso se confortava
Enquanto nos braços da dama ela jazia,
Um arrebatamento em seu peito colocava,
E nos lábios dela e sobre seu olhar
Espalhou sorrisos como luz!
                                              Com novo assombrar,
'O que aflige então minha amada criança?'
O Barão disse -- Sua filha mansa
Fez resposta, 'Tudo ficará bem um dia!'
Eu creio, ela não tinha poder e não contaria
Algo diferente: tão poderosa era a feitiçaria.

Ainda ele, que viu esta Geraldine,
Considerou ela certamente uma coisa divina:
Ela misturava tamanha mágoa com tamanha graça,
Como se ela temesse ter feito ofensa
À doce Christabel, aquela gentil donzela!
E com tons tão rebaixados rezava ela
Que ela pudesse ser enviada sem protelação
Para casa na mansão do seu pai.
                                                    'Não!
Não, por minha alma!' Leoline disse.
'Ho! a carga será tua, bardo Bracy!
Vás tu, com música alta e dulçorosa,
E tome dois corcéis com insígnias orgulhosas,
E leve o jovem que por tu és mais querido
Para carregar tua harpa, e tua canção aprender,
E traje vocês ambos em solene vestido,
E sobre as montanhas se ponham a correr,
Assim a gente peregrina, que mora por lá,
Na estrada do vale não os deterá.

'E quando a cheia do Irthing terminou de cruzar,
Meu bardo alegre! ele se apressa, se apressa
Morro Knorren acima, através do Bosque de Halegarth,
E logo veio aquele bom castelo a alcançar
Que resiste e ameaça as desolações da Escócia.

'Bardo Bracy! bardo Bracy! veloz é sua cavalaria,
Você deve cavalgar até o saguão, sua música tão macia,
Mais alta que os pés ecoantes das suas montarias!
E alta e alta para Lorde Roland faz chamada,
Tua filha no salão de Langdale está guardada!
Tua bela filha segura e livre está --
Sir Leoline assim vem por mim te saudar!
Ele pede a ti que venhas sem protelação
Com toda a tua numerosa guarnição
E leve tua filha amável para o lar adiante:
E ele no caminho contigo fará reunião
Com toda a sua numerosa guarnição
Branca com a espuma de seus palafréns arfantes:
E, por minha honra! Sou quem anuncia,
Que eu me arrependo do dia
Quando eu falei palavras de feroz desdém
Para Roland de Vaux de Tryermaine! --
-- Pois desde que aquela má hora voou,
Mais de um sol de verão brilhou;
E ainda nunca encontrei eu um amigo também
Como Roland de Vaux de Tryermaine.'

A dama caiu, e agarrou seus joelhos,
A face dela para cima, os olhos dela transbordando;
E Bracy replicou, com voz hesitante,
O gracioso Clamor dele a todos alcançando! --
'Tu senhor de Christabel, o que estás a falar,
É mais doce do que minha harpa pode contar;
Ainda possa eu uma dádiva de ti merecer,
Este dia minha jornada não deveria ser,
Um sonho tão estranho eu vim a ter,
Que eu jurei com música alta
Limpar aquela mata do que for amaldiçoado,
Em meu repouso por uma visão fui alertado!
Pois em meu sono aquela pomba eu vi,
Aquele pássaro gentil, amado por ti,
E ao qual o nome de tua própria filha deu --
Sir Leoline! A mesma vi eu
Batendo asas, e soltando temível lamentação,
Entre as ervas verdes na floresta em isolação.
Que quando eu vi e quando ouvi,
Eu imaginei o que poderia o pássaro afligir;
Pois coisa alguma próxima podia ser enxergada,
Além da grama e ervas verdes pela velha árvore encimadas.

' E em meu sonho me pareceu que rumava
Procurar o que poderia lá ser encontrado;
E o que o apuro do doce pássaro significava,
Que assim batia asas no chão deitado.
Eu fui e espiei, e poderia descrever
Não haver causa para chorar para alguém o socorrer;
Mas ainda pelo que sua cara dama quereria
Eu me abaixei, para a pomba pegar, me parecia,
Quando lá! uma cobra verde brilhante eu via
Enrolada ao redor de suas asas e pescoço.
Verde como as ervas em que deitada estava,
Perto da cabeça da pomba ela a sua rastejava;
E com a pomba ela se debate e revira,
Estirando seu pescoço como ela o próprio estira!
Era a hora da meia-noite, quando vim a despertar,
O relógio estava na torre a ecoar;
Mas apesar que meu sono embora tivesse ido,
Este sonho ele não passaria --
Em meu olho ele parecia ainda tão vívido!
E desde então eu jurei neste mesmo dia
Com música forte e canção santificada
Através da floresta nua perambular,
Atrás de algo profano que vaga lá.'

Assim Bracy disse: o Barão, entrementes,
Meio ouvindo o escutou sorridente;
Então para Lady Geraldine dirigiu-se,
Os olhos dele amorosos e se maravilhando;
E em tons finos e corteses disse,
'Doce donzela, bela pomba de Lorde Roland,
Com braços mais fortes que harpa ou canção,
Teu senhor e eu iremos a cobra esmagar!'
Ele beijou a fronte dela enquanto estava a falar,
E Geraldine à guisa de donzela
Lançando abaixo os grandes olhos brilhantes dela,
Com face ruborizante e cortesia fina
Ela virou-se para longe de Sir Leoline;
Suavemente o seu treino reuniu,
Que sobre seu braço direito de novo caiu;
E cruzou seus braços pelo seu peito ao meio,
E aninhou sua cabeça sobre seu seio,
E para Christabel relanceou uma olhada
Jesu, Maria, deixem-na bem guardada!

Um pequeno olho de cobra pisca tênue e timidamente;
E os olhos da dama em sua cabeça menores ficaram,
Cada um encolheu até um olho de serpente,
E com algo de malícia, e mais de pavor que ganharam,
Para Christabel ela olhou de relance! --
Um momento -- e as visões escaparam!
Mas Christabel em atônito transe
No chão instável titubeante
Estremeceu alto, com um som sibilante;
E Geraldine virou-se novamente,
E como uma coisa, que buscava se aliviar,
Cheia de maravilha e cheia de pesar,
Ela rolou seus grandes olhos brilhantes e divinos
Selvagemente sobre Sir Leoline.

A donzela, ai! seus pensamentos perdidos estão,
Ela nada vê -- nada além de uma visão!
A donzela, desprovida de malícia e pecado,
Eu não sei como, de maneira reticente,
Tão profundamente havia ela se intoxicado
Naquele olhar, naqueles encolhidos olhos de serpente,
Que todas as feições dela estavam resignadas
A esta imagem na mente dela isolada:
E passivamente se pôs a imitar
O ódio tênue e traiçoeiro daquele olhar!
E em transe atônito, assim ela ficou,
Ainda imaginando aquele olhar que relanceou
Com forçada e inconsciente simpatia
Diante da vista do pai dela plenamente --
Tanto quanto tal olhar poderia
Ser em olhos tão azuis e inocentes!

E a donzela, quando o transe terminou
Pausou por um momento, e interiormente rezou:
Então caindo aos pés do Barão,
'Pela alma da minha mãe, faço rogação
Que tu mandes embora esta mulher!'
Ela disse: e mais ela não podia dizer:
Pois ela não podia contar o que sabia,
Sobrepujada pela poderosa magia.

Porque está tua face tão lívida e sem temperança,
Sir Leoline? Tua única criança
Jaz a teus pés, o júbilo teu, o orgulho teu,
Tão bela, tão inocente, tão mansa;
A mesma, por quem tua senhora morreu!
Ó pelas angústias de sua mãe querida
Pense tu nenhum mal de tua criança!
Por ela, e ti, e por nenhuma outra vida,
Ela rezou no momento antes que morreu:
Rezou que o bebê por quem ela morreu,
Provaria-se o júbilo e orgulho do caro lorde seu!
Ela desviou suas angústias mortais ao rezar,
Sir Leoline! E a ela
Tua única criança, mal iria tu causar,
Criança tua e dela?

Dentro do coração e cérebro do Barão
Se pensamentos, como estes, estavam a os habitar,
Eles apenas inchavam sua raiva e consternação,
E apenas operavam confusão lá.
Seu coração pela dor e raiva estava rachado,
Suas faces palpitavam, seus olhos em maníaco estado,
Assim em sua velha idade desonrado;
Por sua única criança desonrado,
E todo o seu hospitaleiro acolhimento
Para a filha de seu amigo maltratada
Por mais do que uma mulher em impulso ciumento
Trazida assim a uma conclusão desgraçada --
Ele rolou seu olho com zelo rigoroso
Sobre o bardo menestrel garboso,
E disse em tonalidades abruptas, austeras --
'Ora, Bracy! ainda tu aqui esperas?
Eu lhe peço que vá!' O bardo acatou;
E de sua própria doce donzela se afastou,
O cavaleiro idoso, Sir Leoline,
Conduzindo adiante a dama Geraldine!

1800.


A CONCLUSÃO DA PARTE II

Um elfo ágil, uma pequena criança,
Que para si mesma canta e dança,
Uma coisa feérica com faces redondas e rubras,
Que sempre acha, e nunca procura,
Para a vista faz tamanha visão
Que enche os olhos do pai com iluminação;
E prazeres fluem para dentro tão espessos e ligeiros
Sobre seu coração, que ele por derradeiro
Precisa expressar o excesso de seu amor
Com palavras de não pretendido amargor.
Talvez é bonito forçar juntamente
Um pensamento de outro tão diferente
Murmurar e zombar de um encanto quebrado,
Se não causa mal, divertir-se com o errado.
Talvez é bonito e também tem suavidade
A cada palavra louca dentro sentir provocado
Um doce recuo de amor e piedade.
E daí, se em um mundo de pecado
(Ó mágoa e vergonha fosse isso verdadeiro!)
Tal frivolidade de cérebro e coração
Vem raramente exceto pela raiva e consternação,
Então fala como já lhe é costumeiro.

1801.

8 de novembro de 2016

WidBook e Orelha de Livro


Publiquei meu primeiro livro, Histórias Estranhas, no site de leitura WidBook.

Lembrando que ele já está no Wattpad !

E logo aparecerá no Womou.

Fiquei contente com o resultado no Wattpad e provavelmente incluirei meus outros livros nessas plataformas.



Incluí também meus livros na página Orelha de Livro.