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26 de novembro de 2010

O Tempo na ficção científica antiga (3)

Pouco antes de H. G. Wells e Jules Verne fundarem propriamente o gênero da ficção científica, houve vários autores que enveredaram pela especulação científica, e dentre estes é possível indicar alguns que trataram do Tempo em algum aspecto.

Antigas visões do futuro incluíam dirigíveis dominando os céus
Apesar de sua considerável contribuição por ter cunhado o termo "literatura futurista", a Internet negou ao historiador francês Félix Bodin uma biografia adequada. Encontrei esta na Wikipédia em francês, sem mencionar sua tardia mas inegável aventura pela ficção científica, se é que não é um ilustre homônimo e contemporâneo. De qualquer forma, a obra em questão é Le Roman de l'Avenir ("O Romance do Porvir", 1834), notável pelo tratamento do progresso social e moral da humanidade além do tecnológico, e no sucesso maior naquele do que neste. Exemplifica-se com a comparação: tecnologias a vapor e dirigíveis predominam em seu mundo na segunda metade do século XX, mas acertadamente ocorre o declínio do poder monárquico e o inverso crescimento da democracia, a influência crescente de companhias de capital aberto e a globalização da política mundial. Esta sociedade mundial do futuro estaria dedicada a eliminar três grandes males, guerra, escravidão e poligamia, ao mesmo tempo que lida com conflitos armados em uma projeção realista de que não haveria sucesso nestas empreitadas tão cedo.

A primeira menção de mumificação desta postagem é de Jane Webb Loudon (1807-1858), com seu "A Múmia!: Um Conto do Século XXII" (1827), publicado anonimamente. Influenciada por "Frankenstein" e pelas então recentes descobertas de franceses no Egito, na estória o faraó Quéops (ou Khufu, cuja múmia nunca foi encontrada) revive através de choques galvânicos no século XXII e perambula observando as mudanças na política, tecnologia e cultura, como mulheres usando calças, joias que emitem chamas, autômatos a vapor que fazem as vezes de médicos e advogados e casas sobre trilhos para a ocasional mudança de ares.

"Napoleão Diante da Esfinge", Jean-León Gérôme, 1868
O francês Louis-Napoleón Geoffroy-Chateau (1803-1858) escreveu o que é indicada como a primeira obra literária disponibilizada para o grande público a explorar o tema de história alternativa, "História da Monarquia Universal: Napoleão e a Conquista do Mundo 1812-1832" (1836). Como pode-se depreender do título, a obra conta a história do mundo após Napoleão subjugar a Rússia em 1812 (em nossa história os franceses bateram retirada), invadindo a Inglaterra em 1814 e continuando as conquistas até se tornar Imperador do Mundo. Seu governo propicia diversos avanços como veículos voadores, pianos de escrita, climatização, potabilização da água do mar, curas para diversos males e a descoberta do planeta Vulcano. Em certo momento, fala-se em um romance fantástico em que Napoleão teria sofrido uma derrota incrível na pequena cidade belga de Waterloo.

A monumental obra de Edgar Allan Poe (1809-1849) conta com dois textos que merecem menção nesta lista. Na sátira "Algumas Palavras Com Uma Múmia" (1845), Poe denuncia os extremos da egiptomania de sua época, com a múmia Allamistakeo (all a mistake quer dizer "tudo um engano") revivida através de eletricidade e iniciando um debate com os homens modernos que o reviveram. A múmia despreza todas as descobertas da modernidade, dizendo que os egípcios já haviam descoberto tudo, exceto pílulas para tosse. Em outra sátira, "O Milésimo Segundo Conto de Xerazade" (1845), a contadora de estórias de as "Mil e Uma Noites" descreve a oitava e última viagem do marinheiro Simbad, descrevendo todo tipo de maravilha, na verdade curiosidades dos Estados Unidos à época de Poe. O rei Xariar fica tão descrente com a estória que revoga sua decisão anterior depois das mil e uma estórias, ordenando a morte de Xerazade.

Imaginava-se difusão da tecnologia a vapor em vez de substituição
Émile Souvestre (1806-1854) descreve em seu "O Mundo Como Será" (1846) o mundo do ano 3000, para o qual o casal francês Maurice e Marthe são levados por "João Progresso", o condutor de uma locomotiva a vapor que viaja no tempo. Esse mundo do futuro tem veículos subaquáticos e subterrâneos movidos a vapor, sintetização de madeira e pedras, telefonia, climatização, culturas vegetais gigantes, e um governo mundial com capital no Taiti. Reformas sociais severas, incluem pessoas criadas e condicionadas desde a infância para trabalhos específicos, corporações influenciando decisões do governo e doenças e aflições causadas às pessoas pela comunidade médica.

Victor Hugo (1802-1885), mais lembrado por "Os Miseráveis", deixou "A Lenda dos Séculos" (1859-1883), uma coleção de poemas que descreve o poeta em sonho contemplando um "muro dos séculos", em que surgem projetadas visões do passado, presente e futuro. Os poemas procuram descrever essas visões, indo do lírico ao satírico, mais aludindo ao espírito de cada século do que sendo historicamente precisos. "O Século Vinte" contém dois poemas, "Mar pleno" e "Céu pleno", que contam como a humanidade reúne-se sob os destroços do veículo "Leviatã" que navegava por um mundo desértico assolado por ventanias. Finalmente os homens dirigem-se às estrelas em uma nave.

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