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27 de setembro de 2010

"A Duração Apunhalada" de René Magritte

O pintor belga René François Ghislain Magritte (1898-1967), um dos expoentes do Surrealismo, é mais lembrado pela mescla de filosofia e imagem em suas obras, melhor representado pela sua obra mais conhecida, "A Traição das Imagens" (La thahison des images, 1929). Outra de suas características é o elemento recorrente de homens usando chapéu coco.

Natural de Lessines, seu pai era tecelão e sua mãe, chapeleira. Pouco se sabe sobre sua juventude. Submeteu-se a aulas de desenho em 1910, e seus primeiros quadros, datados de 1915, tinham estilo impressionista. De 1916 a 1918 teve estudo pouco inspirador em Bruxelas. Até 1924 sofreu influência do futurismo e cubismo, tendo servido na infantaria belga em 1921 e desenhado para uma fábrica de papéis de parede de 1922 a 1923. Produziu pôsteres e anúncios até 1926, quando firmou contrato com a Galerie la Centaure e pode se dedicar em tempo integral à pintura. Em 1926 pintou sua primeira obra surreal, "O Jóquei Perdido" (Le jockey perdu). Desolado com a recepção negativa de sua primeira exibição em 1927, mudou-se para Paris, onde conheceu André Breton (1896-1966) e envolveu-se com os Surrealistas.

O contrato terminou em 1929, com Magritte retornando a Bruxelas em 1930, onde permaneceu através da Segunda Guerra Mundial, perdendo contato com Breton. De 1943 a 1944, com a Bélgica ocupada pelos Nazistas, ele passou por um período de cores vívidas chamadas de "Período Renoir". Em 1946 ele assinou o manifesto "Surrealismo em Plena Luz do Sol", e de 1947 a 1948 adotou um estilo fauvista, similar a Matisse, e paralelamente sobreviveu vendendo falsificações de Picasso, Braque e Chirico. No fim de 1948 retornou ao estilo pré-Guerra, reforçando-o até sua morte em 1967.

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"A Duração Apunhalada" (La durée poignardée, 1938), um óleo sobre tela de 147 x 98,7 cm, tem seu título geralmento traduzido como "Tempo Transfixado", tradução que Magritte não apreciava. O quadro mostra uma pequena locomotiva "Black Five" -- nome pelo qual ficou notória a locomotiva a vapor Class 5 4-6-0 desenvolvida por William Stanier (1876-1965) -- saindo a pleno vapor de uma lareira, sobre a qual estão dois castiçais e um relógio em frente a um espelho, que reflete apenas o castiçal da esquerda e o relógio.

O quadro foi o segundo encomendado pelo poeta inglês Edward James (1907-1984), um dos apoiadores de Magritte e dos surrealistas. O primeiro foi um retrato de James intitulado "A Reprodução Interditada" (La reproduction interdite, 1937, conhecido como "A Não ser Reproduzido"). O Art Institute of Chicago adquiriu o quadro de James em 1970, quando este levantava fundos para construir Las Pozas, seu jardim de esculturas surreais.

Magritte disse sobre o quadro: "Eu decidi pintar a imagem de uma locomotiva... para que seu mistério fosse evocado, outra imagem imediatamente familiar sem mistério -- a imagem de uma lareira de sala de jantar -- foi juntada". O comentário do Art Institute sobre o quadro aponta para os efeitos da justaposição: a lareira torna-se um túnel ferroviário por onde sai o trem, enquanto o vapor da locomotiva entra pela lareira indicando que a fumaça sairia pela chaminé acima.

O título é, como era comum para Magritte, provocador em vez de alusivo ou diretamente referente ao conteúdo da obra. Ele é literalmente "o conceito de tempo contínuo trespassado por um punhal". Magritte esperava que James colocasse o quadro aos pés de uma escadaria onde ele (o trem, ou talvez o quadro inteiro) "apunhalaria" seus convidados no caminho para a sala da baile. James, entretanto, o pendurou sobre sua própria lareira.

Em última nota, o relógio parece indicar 12 horas e 43 minutos.

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