Charles Wright havia se tornado um dos habitantes daquela remota instalação científica, sem coisa ou pessoa alguma num raio de quilômetros. Sua especialização era matemática; seu trabalho era supervisionar iterações dos sistemas e nutri-los, esporadicamente, com dados e números. Não era um trabalho excitante. Charles não via a hora de terminar seu tempo ali e voltar para casa.
Haviam descrito o lugar como um “complexo” destinado à “coleta de dados por satélite”, e a descrição do trabalho havia sido enfeitada com várias outras palavras instigantes. Tudo besteira! De fora, o tal complexo parecia apenas uma mera base ou patamar para uma torre salpicada de antenas e receptores. O interior da construção de concreto, uma verdadeira casamata, era grosseiramente dividido em quatro ambientes, dos quais dois eram destinados aos computadores, receptores e outros sistemas e equipamentos. Dos dois aposentos restantes, um deles combinava as funções de cozinha, despensa e sala de jantar; o outro acumulava as funções de dormitório e local de lazer, para Charles e seus dois parceiros de martírio.
Um deles era Roger Wilson, um técnico tímido e nervoso, propenso a episódios de irritação. Charles sabia que Roger lutava contra a imagem de obcecado por máquinas e que dedicava boa parte de seu tempo a atividades distantes de sua ocupação, como praticar seu oboé por horas a fio, ou rabiscar poesia em um caderno que parecia remontar aos seus tempos de escola. O som do instrumento e o precário domínio que Roger tinha dele levaram à decisão, por dois votos a um, de que ele conduzisse seus treinos a algumas dezenas de metros do complexo.
O outro se chamava Elmer Finn, vigilante do complexo e seu habitante veterano. Elmer era responsável por abastecer o lugar com provisões e outras atividades essenciais, ainda que nada científicas, como o transporte e contato com povoações. Por isso, Elmer passava longos períodos de tempo fora. A presença de Elmer era uma constante lembrança para Charles de como ele, Roger e toda aquela ciência e tecnologia pareciam não pertencer àquele lugar.
Charles, Roger e Elmer haviam estabelecido um convívio relativamente pacífico. De modo espontâneo, aqueles três homens tão diferentes haviam chegado a um acordo, não escrito nem falado, de se aterem apenas às próprias vidas e de conversarem apenas quando necessário. Charles sabia que muitas pessoas achariam solitária aquela vida em meio a relações tensas, mas sabia também que isso não era verdade. De sua parte, diria que apreciava não ter de atender às regras sociais e padrões de conduta que o forçariam, em situações normais, a cumprimentar aqueles próximos de si e tentar conhecê-los até os limites do apropriado, em uma insana busca de semelhança entre espíritos, fadada ao fracasso.
Haviam descrito o lugar como um “complexo” destinado à “coleta de dados por satélite”, e a descrição do trabalho havia sido enfeitada com várias outras palavras instigantes. Tudo besteira! De fora, o tal complexo parecia apenas uma mera base ou patamar para uma torre salpicada de antenas e receptores. O interior da construção de concreto, uma verdadeira casamata, era grosseiramente dividido em quatro ambientes, dos quais dois eram destinados aos computadores, receptores e outros sistemas e equipamentos. Dos dois aposentos restantes, um deles combinava as funções de cozinha, despensa e sala de jantar; o outro acumulava as funções de dormitório e local de lazer, para Charles e seus dois parceiros de martírio.
Um deles era Roger Wilson, um técnico tímido e nervoso, propenso a episódios de irritação. Charles sabia que Roger lutava contra a imagem de obcecado por máquinas e que dedicava boa parte de seu tempo a atividades distantes de sua ocupação, como praticar seu oboé por horas a fio, ou rabiscar poesia em um caderno que parecia remontar aos seus tempos de escola. O som do instrumento e o precário domínio que Roger tinha dele levaram à decisão, por dois votos a um, de que ele conduzisse seus treinos a algumas dezenas de metros do complexo.
O outro se chamava Elmer Finn, vigilante do complexo e seu habitante veterano. Elmer era responsável por abastecer o lugar com provisões e outras atividades essenciais, ainda que nada científicas, como o transporte e contato com povoações. Por isso, Elmer passava longos períodos de tempo fora. A presença de Elmer era uma constante lembrança para Charles de como ele, Roger e toda aquela ciência e tecnologia pareciam não pertencer àquele lugar.
Charles, Roger e Elmer haviam estabelecido um convívio relativamente pacífico. De modo espontâneo, aqueles três homens tão diferentes haviam chegado a um acordo, não escrito nem falado, de se aterem apenas às próprias vidas e de conversarem apenas quando necessário. Charles sabia que muitas pessoas achariam solitária aquela vida em meio a relações tensas, mas sabia também que isso não era verdade. De sua parte, diria que apreciava não ter de atender às regras sociais e padrões de conduta que o forçariam, em situações normais, a cumprimentar aqueles próximos de si e tentar conhecê-los até os limites do apropriado, em uma insana busca de semelhança entre espíritos, fadada ao fracasso.
"Saudações do Futuro" é o sexto conto do livro. A estória é ambientada no presente, em uma instalação de captação de sinais para pesquisa científica, em local remoto, mas deixado sem detalhamento maior.
Acompanhando Charles Wright, um matemático descontente que lida com a interpretação dos sinais por computadores, a narrativa trata do cientista em seu isolamento, até a detecção de um estranho sinal que causa uma revolução em sua rotina.
O cenário permite ao conto abordar o tema de realizações da vida, de expectativas relacionadas ao potencial real ou imaginário das pessoas e das oportunidades que desaparecem tão rápido como somem.
Este trabalho motivou a temática da coletânea, tendo sido premiado em 1º lugar no concurso de contos "Servir com Arte" de 2008, da Escola de Governo do Paraná.
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