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30 de agosto de 2010

"O Tempo Não Tem Margem" de Marc Chagall

O nome real do pintor russo Marc Chagall (1887-1985),  Moishe Zakharovich Shagalov, revela sua descendência judaica. Nasceu na cidade de Liozna, atual Bielorússia, vizinha de Vitebsk, esta chamada "de Toledo Russa" por sua atividade cultural e que foi totalmente destruída na Segunda Guerra Mundial. Liozna e Vitebsk eram parte da Zona de Assentamento, a região do Império Russo onde judeus podiam fixar residência permanente. Ainda assim, os judeus sofriam diversas restrições, o que fez com que suprissem diversas necessidades por conta própria.

Um dos nove filhos de um peixeiro, obteve educação em uma escola judaica e só foi admitido no colégio porque sua mãe pagou ao diretor. Apreciando os desenhos de um colega, perguntou-lhe onde havia aprendido e teve como resposta que ele copiava ilustrações de livros. Ele fez exatamente isso e descobriu grande satisfação. Depois foi admitido de graça sob a tutelagem de Yehuda Pen (1854-1937) mas retratos não eram suficientes para ele, mudando-se em 1906 para a capital cultural do Império, São Petersburgo, onde aprendeu com León Samoilovitch Bakst (1866-1924). Em 1910 foi para Paris sem saber francês, tendo aulas na academia La Palette. Em 1914 planejou retornar para Vitebsk apenas para casar com suanoiva, mas a Primeira Guerra Mundial o forçou a permanecer até 1922, através da Revolução Russa de 1917. Ele foi constituído "Comissário de Artes Visuais" pelo novo regime, fundando um Colégio de Artes em Vitebsk e apresentando sua arte em São Petersburgo e Moscou. Em 1923 retornou para a França até 1941. Com sua arte tendo sido -- por razões evidentes -- atacada pelos nazistas, teve que escapar da França de Vichy com a ajuda do governo dos EUA, estabelecendo-se em Nova Iorque até 1948. Então voltou para a Europa, vizinho de Matisse e Picasso na Riviera Francesa, até sua morte.


O quadro "O Tempo Não Tem Margens" (Le temps n'a point de rives, 1930-1939, 100 x 81,2 cm) é indicado como sendo precursor de elementos surrealistas (apesar de não querer se enquadrar em escolas, Chagall sintetizou o cubismo, simbolismo e fauvismo, sendo indicado como um expressionista e "um precursor do modernismo"). A página de leilões Christie's indica sua atual localização como o Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, mas na página deste só pude encontrar um rascunho da obra (1928, 21 x 14 cm). O comentário da Christie's sobre o quadro diz que ele
"... é obra tanto lírica quanto filosófica, imbuída com a caprichosa visão do mundo que é própria de Chagall. O peixe alado que se arremessa pelo ar sobre uma ampla paisagem fluvial é por si só uma criatura mágica, mas com a adição do relógio, relaciona-se intimamente com o mundo pessoal interno de Chagall e sua visão interior. Muitos anos depois, retornando em 1914 para a casa dos pais em Vitebsk depois de forjar sua carreira primeiro na Rússia e depois em Paris, Chagall pintou o relógio na casa deles, e é o mesmo relógio que reapareceria intermitentemente em pinturas posteriores. Uma vez redescoberto, e de fato reencarnado, como parte de seu mundo infantil, foi também transfigurado no relógio quintessencial na mente do artista. A despeito de sua aparência distinta, este relógio é um marcador de tempo genérico, uma referência ao externo e imutável compasso do próprio tempo."
Acompanhado do peixe, que representa poderes remotos da consciência de sair de seu mundo (como o peixe voa em elemento que não é o seu próprio), o relógio sem ponteiros representa o tempo do qual, como o título indica, a alma libertou-se. O tempo não tem mais importância.

O título da obra vem do poema "O Lago" (Le Lac), pela qual ficou famoso o poeta e político francês Alphonse de Lamartine (1790-1869), cuja estrofe versa (tradução minha): "Amemo-nos então, amemo-nos então, a hora fugitiva | Nos apressa, alegremo-nos! | O homem não tem porto, o tempo não tem margem; | Ele flui, e nós passamos!"

1 comentários:

Anônimo

No limiar do tempo, na hora certa um peixe voador tocará uma música no violino para os amantes se encontrarem e o amor fluir!

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