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11 de junho de 2010

Mais do que mera coincidência


O psiquiatra suíço Carl Gustav Jung (1875-1961) dedicou muita atenção a aspectos mais metafísicos da psicologia humana, como o inconsciente e a espiritualidade, que participam dos fundamentos de sua psicologia analítica. Dentre as suas contribuições para a Psicologia estão os complexos, arquétipos, o inconsciente coletivo e a noção de sincronicidade.

Apesar de já ter trabalhado no tema anos antes, foi em 1952 que Jung publicou um artigo intitulado "Sincronicidade - Um Princípio de Conexão Acausal". Jung chama de sincronicidade "a ocorrência temporalmente coincidente de eventos acausais", "paralelismo acausal" ou "coincidência significativa". Ocorre sincronicidade quando dois acontecimentos ocorrem ao mesmo tempo - uma coincidência no perfeito significado da palavra, co-incidência - sem que um seja causa direta ou indireta do outro, e em que a probabilidade para a simultaneidade seja irrisória. Assim, são três os requisitos para os chamados eventos sincronísticos: simultaneidade, acausalidade, e improbabilidade.
 
Jung dá um exemplo no artigo: " uma jovem mulher que estava tratando teve, em um momento crítico, um sonho em que lhe era presenteado um escaravelho dourado. Enquanto ela me contava esse sonho, eu estava sentado de costas para a janela fechada. Subitamente ouvi um barulho atrás de mim, como uma batida leve. Virei-me e vi um inseto voador batendo contra o vidro pelo lado de fora. Abri a janela e peguei a criatura no ar assim que voou para dentro. Era a analogia mais próxima a um escaravelho dourado que alguém encontraria em nossas latitudes, um besouro escarabeídeo, a comum rose chafer (Cetonia aurata), que, contra seus hábitos usuais evidentemente sentiu o impulso de entrar em um quarto escuro naquele momento particular. Devo adimitir que nada parecido aconteceu comigo antes ou desde então".

De acordo com Jung, o conceito completaria um sistema - conjuntamente com arquétipos e o inconsciente coletivo - que descreveria uma dinâmica governante subjacente a toda a experiência e história humanas. Do livro "Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo" (1934): "Minha tese então, é como segue: em adição à nossa consciência imediata, que é de uma natureza profundamente pessoal e que acreditamos ser a única psiquê empírica (mesmo se agregarmos o inconsciente pessoal como um apêndice), existe um segundo sistema psíquico de uma natureza coletiva, universal e impessoal que é idêntica em todos os indivíduos. Este inconsciente coletivo não se desenvolve individualmente mas é herdado. Ele consiste de formas pré-existentes, os arquétipos, que só podem se tornar conscientes secundariamente e que dão forma definitiva a certos conteúdos psíquicos".

A sincronicidade seria uma das consequências desse sistema, conectando as ocorrências ligadas não por causalidade - verificáveis cientificamente - mas pelo significado. A interpretação do modelo proposto por Jung leva a uma perigosa proximidade do pensamento mágico, ou causalidade mental, em que se acredita em correlações inexistentes ou mesmo impossíveis entre pensamentos e ações e ocorrências reais. O próprio exemplo de Jung permite tal interpretação, se implicar-se que a paciente ou ele próprio atraíram o escaravelho para a janela por simples força de pensamento, ou que a paciente previu que o inseto bateria na janela. O próprio Jung determinou que o princípio era acausal, ou seja, não é baseado em e também não gera uma relação de causalidade entre os eventos, mas isso não é geralmente levado em consideração e o princípio é popular entre místicos contemporâneos adeptos também de mencionar a noção de inconsciente coletivo.

Em vez disso, Jung dizia que as pessoas, influenciadas pelos arquétipos através dos quais compartilham o inconsciente coletivo, manifestariam sentimentos, impressões, comportamentos, e mesmo pensamentos e ações em comum com outras, em momentos distintos ou coincidentes. Quando ocorrem ao mesmo tempo, ocorre sincronicidade: pessoas movidas por fatores inconscientes, que as levam a ações que concorrem a um mesmo evento. Isto difere de fatos que ocorrem separadamente, não motivados por fatores psicológicos, assim pode-se falar em uma "causalidade sincronística", ou seja, que a explicação para um evento - determinado, necessariamente, pela vontade de pessoas - venha da influência de seus arquétipos inconscientes, e em uma sincronicidade de significado, em que se encaixa o exemplo do escaravelho - a menos que escaravelhos participem também do inconsciente coletivo.

O significado tem fundação na percepção, que é interpretada pela racionalidade conforme todos os fatores que influenciam a inteligência humana. Se o sistema de Jung for aceito, o inconsciente coletivo é um desses fatores e o que percebemos, a forma dessa percepção, e o significado final gerado para os eventos, é definido por algo inerente ao funcionamento da mente humana ao longo do tempo.


O personagem Dennis, o Pimentinha (Dennis the Menace em inglês, literalmente "Dennis a Ameaça") criado por Hank Ketcham (1920-2001) estreou em 16 jornais dos Estados Unidos em 12 de março de 1951. Três dias depois, em 15 de março de 1951, a tira do personagem Dennis the Menace de David Law estreou na edição nº 452 da revista The Beano. Ambos eram garotos travessos usando macacão e listras, o estadunidense com camiseta listrada e o britânico com listras no macacão. Não foi provada qualquer influência de um sobre outro.

E se nossas mentes forem apenas ecos em uma grande caverna da inconsciência?

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